Saúde

Brasileiros ainda cuidam pouco da saúde dos animais de estimação

Especialista alerta para a importância da vacinação de filhotes e animais adultos. Tutores não podem esquecer das doses de reforço e devem ficar atentos aos cuidados na hora de introduzir um novo animal em casa

Letícia Orlandi

Menos de 40% dos animais de estimação brasileiros recebem os cuidados veterinários adequados
O mercado de pets no Brasil é o segundo maior em faturamento no mundo, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Com mais de 100 milhões de animais nas residências brasileiras, os produtos para eles movimentaram R$ 13,6 bilhões em 2012. Com esses números impressionantes, era de se esperar que todos esses bichinhos fossem muito bem cuidados, não? Não. A estimativa do setor é de que entre 30 e 40% dos animais de estimação recebem cuidados veterinários adequados. Ou seja, menos da metade.


Como os custos com a imunização nos primeiros meses de vida são mais altos, o ideal é pensar bem antes de adotar ou comprar um animalzinho, para não correr de oferecer condições inadequadas a ele.

O médico veterinário Andrei Nascimento, gerente Técnico da MSD Saúde Animal, explica que 70% dos pets que morrem antes dos 3 anos de idade são vítimas de doenças infecciosas, que seriam facilmente prevenidas com a vacinação. “Para citar alguns exemplos, os cães sofrem com parvovirose, cinomose, lepstopirose; e os gatos podem contrair rinotraqueíte, panleucopenia e calcivirose, entre outras. As doenças podem levar à morte do filhote em pouco tempo”, alerta o especialista.

Os filhotes com menos de 5 meses exigem mais cuidados. Antes de completarem todo o protocolo de vacinas, eles não podem ser expostos a todos os desafios que o animal adulto enfrenta. “Não é recomendado que eles tenham contato com aglomerações de pessoas, parques e praças com grande fluxo de cachorros. Na medida em que os anticorpos fornecidos pelo leite materno vão perdendo seu efeito, eles estão muito expostos a infecções. O sistema imunológico ainda não está totalmente desenvolvido”, alerta o veterinário.

Além da vacina contra a raiva, os filhotes de cães e gatos devem tomar três ou quatro doses de vacina múltipla – a partir da sexta até a 16ª semana de vida. Cada dose deve ter um intervalo de três a quatro semanas. Depois disso, é fundamental o reforço anual.

Em casos específicos, a vacinação pode ser feita mais cedo, antes da 6ª semana de vida
Mas existem casos - e vacinas específicas – em que a imunização pode ser feita de forma precoce, com apenas 3 ou 4 semanas de vida. “Se um filhote tiver que viajar para outro estado ou país, por exemplo; ou se a mãe não teve leite ou morreu no parto; ou ainda se ele for introduzido em um ambiente antes habitado por um bicho que morreu em virtude de uma doença infecciosa, a vacina adequada à idade do filhote pode ser aplicada antes do período normal”, detalha Andrei.

O especialista explica que, principalmente nos casos em que o bichinho convive com crianças, os pais ficam muito ansiosos para adquirir outro animal. “A criança tem febre, chora durante a noite e sente saudade do animalzinho que faleceu. Mas o ideal seria procurar a orientação do veterinário antes de introduzir um novo animal. O problema é que a maioria das pessoas só procura depois que o bichinho está em casa”, alerta o médico veterinário. Os pais costumam levar o novo animal para casa durante a semana e só vão vaciná-lo dentro de alguns dias, o que pode expô-lo a alguma infecção no novo ambiente.

Uma dica para essa situação é, seja em casos de compra ou adoção, que os pais levem a criança ao abrigo/canil/gatil, escolham o novo mascote e informem ao filho que aquele será seu novo bichinho, mas que só irá para casa quando estiver com todas as vacinas em dia. A criança pode inclusive visitá-lo nesse período.

Filhotes devem receber mais doses para ficarem completamente imunizados
Durante essa fase mais crítica da vida do filhote – entre a sexta e a 12ª semana de vida – ele deve evitar alguns riscos, mas não pode deixar de socializar-se. “Em vez de levá-lo a uma praça ou parque, leve para a casa de um amigo ou parente que tenha outros animais saudáveis. É um risco mais bem calculado”, ensina o especialista.

Se o bichinho escolhido tiver mais do que cinco meses, será necessário fazer exames para avaliar se ao animal está saudável. Uma vez concluída esta etapa, duas doses de vacina múltipla – além da vacina antirrábica – são suficientes. E, é claro, o reforço anual.

Cuidados
Cada animal reage de uma maneira à medicação
Uma das preocupações dos tutores está na possibilidade de uma reação alérgica. “A vacina é produzida para não provocar reação. Mas, como cada animal reage de forma diferente, ela pode acontecer, principalmente na aplicação de vacinas múltiplas, que estimulam o sistema imunológico de maneira mais acentuada”, explica o veterinário.

A reação geralmente não passa de inchaço e dor local, o que pode ser resolvido com compressas quentes, na maioria dos casos, ou com a aplicação de anti-inflamatórios.

Andrei destaca, no entanto, que os benefícios da imunização são muito maiores do que a possibilidade de uma reação alérgica.

Apesar de estarem se tornando comuns no Brasil, os coelhos de estimação ainda não contam com vacinas específicas
Hoje, já existem inclusive vacinas para gripe canina, que é uma doença muito contagiosa. Ela pode ser aplicada anualmente e está disponível na opção intranasal. “Essa forma dispensa a injeção, é indolor e de fácil aplicação. Nesta época do ano, em que os agentes infecciosos permanecem nos ambientes por mais tempo e os animais tendem a se aglomerarem, a vacina pode ajudar a evitar doenças respiratórias comuns”, diz o especialista.

Em relação a outros animais que estão se tornando mais comuns no Brasil, como os coelhos, a oferta de vacinas é mais restrita. “Na Europa, já existem vacinas específicas para os coelhos. No Brasil, temos apenas para furões (ou ferrets)”, explica o veterinário. Esses animais devem sempre ser levados ao veterinário para avaliar suas condições de saúde.

Andrei Nascimento faz uma palestra nesta sexta-feira (7) a partir das 14h, sobre 'Protocolos Vacinais e os Fatores que Podem Influenciá-los', dentro da programação da Expo Vet Minas 2013, que será realizada no Expominas (Av. Amazonas, 6030 - Gameleira, Belo Horizonte) até domingo. Mais informações pelo telefone (31)3444-9002 ou e-mail atendimento@expovet.com.br