Saúde

Testes de DNA podem indicar duas mil doenças e não apenas os tipos mais comuns de cânceres

Na lista de doenças detectáveis estão desde os mais comuns tipos de tumores malignos, como câncer de mama e de próstata, até síndromes pouco conhecida

Agência Estado

A descoberta nem sempre funciona como aliada. Em alguns casos, conhecer o risco de ficar doente não significa necessariamente uma chance de evitá-lo
Exames de DNA não servem apenas para diagnosticar os riscos de determinada pessoa desenvolver um câncer. Hoje, os chamados testes de mutação genética - que custam quase R$ 6 mil - já conseguem calcular a probabilidade de mais de 2 mil doenças surgirem ao longo da vida do paciente. Na terça-feira, 14, a atriz americana Angelina Jolie anunciou que retirou as duas mamas de forma preventiva após um exame desse tipo apontar risco de 87% de desenvolvimento de um tumor.


Na lista de doenças detectáveis estão desde os mais comuns tipos de tumores malignos, como câncer de mama e de próstata, até síndromes pouco conhecidas, como doença de Huntington (que provoca perda dos movimentos) e outras extremamente temidas, como Alzheimer. Mas a descoberta nem sempre funciona como aliada. Em alguns casos, conhecer o risco de ficar doente não significa necessariamente uma chance de evitá-lo.

Mais comum entre pessoas com idade superior a 70 anos, o Alzheimer, por exemplo, é uma doença degenerativa incurável e impossível de ser prevenida. Tratamentos atuais conseguem, quando há sucesso, retardar a evolução da doença, que provoca confusão mental, alterações de humor, falhas na linguagem e perda de memória. Essa falta de perspectiva leva especialistas a desaconselhar a realização do teste.

O coordenador do Departamento de Aconselhamento Genético do Hospital Sírio-Libanês, Bernardo Garicochea, diz que o paciente que opta por pesquisar seu DNA deve ter consciência das consequências. Há laboratórios que exigem a assinatura de um termo de responsabilidade. “Isso ocorre porque em muitos casos não há o que fazer com a informação. Só se identifica o risco e mais nada. Então para que saber?”

Garicochea ressalta que o teste é um grande avanço, mas deve ser bem usado. “Nos Estados Unidos, a recomendação oficial é só testar genes que podem dar um auxílio ao paciente. Aqui, funciona do mesmo jeito.”

Para identificar probabilidades de desenvolver câncer, os resultados são eficientes. Hoje, quase todo tipo de tumor que pode ter causa genética já está mapeado. Isso quer dizer que o paciente que submeter seu DNA a teste poderá saber se tem ou não risco de sofrer de câncer de estômago, tireoide, intestino e pele, por exemplo.

Nos laboratórios, a análise que detecta risco de câncer de mama é das mais populares. Uma mutação genética nos genes BRCA 1 e BRCA 2 indica a possibilidade do surgimento da doença. Foi o que a atriz Angelina Jolie fez.

Outros exames comuns são os que indicam propensão a desenvolver doença de Huntington ou mesmo os que diagnosticam a síndrome de Down - o teste pode ser feito, nesse caso, na nona semana de gestação, a partir da comparação de amostras de sangue do feto e dos pais.

Histórico

De acordo com a patologista Kátia Leite, todas as pessoas estão sujeitas a herdar uma série de mutações genéticas de seus pais, mas apenas as que têm histórico familiar devem pensar em fazer o teste. “A cirurgia preventiva também não é indicada para todos os pacientes, pelo contrário. Ela se sustenta quando o risco é muito alto, geralmente em casos de câncer de mama, ovário, tireoide”, diz a diretora do Laboratório Genoa Biotecnologia.

É preciso ter em mente ainda que os exames não são 100% exatos. “Eles indicam probabilidades. Se fosse 100%, as pessoas já nasceriam doentes”, completa Garicochea.