“As pessoas agora possuem histórias mais complexas, tramas perigosas em que me enredo a cada passo ou conversa.” A frase foi extraída de Dora sem véu, novo romance do cearense Ronaldo Correia de Brito, mas caberia também como descrição de Onde nascem os fortes, série escrita pelo pernambucano George Moura (em parceria com Sérgio Goldenberg) e com direção artística do mineiro José Luiz Villamarim. Além da excelência e relevância, livro e série têm em comum o protagonismo feminino em um ambiente dominado pelos homens, o sertão nordestino, permeável também às transformações econômicas e tecnológicas das últimas décadas.
Autor de livros de contos como Faca (2003) e romances como Galileia (2008, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura) e Estive lá fora (2012), Correia de Brito nasceu em uma fazenda no sertão cearense, em outubro de 1950. “Eram nove horas de uma manhã de domingo, o pai, João Leandro, saiu ao terreiro e deu um tiro de espingarda para cima, anunciando as alvíssaras”, conta o escritor em seu blog. Radicado no Recife desde a juventude, o autor exerce a medicina com paixão idêntica à que dedica às palavras. “Não me concebo um médico sem o escritor, nem um escritor sem o médico. Os dois se alimentam e justificam”, revela, em entrevista ao Pensar.
No livro novo, Ronaldo Correia de Brito escolheu a primeira pessoa para narrar a saga de Francisca, socióloga encarregada pela família de resgatar o passado da avó, Dora. Na jornada, a pesquisadora se depara com histórias de violência, rancor e fé, todas narradas com a habitual elegância e intensidade do escritor. “Dora sem véu é mais tempo presente, Brasil ano 2018, escancaro sem pudor os males da nossa colonização que nunca cessa, se transforma, assume outros nomes e outros colonizadores, mas é sempre a velha colonização que nos esmaga e enche de mazelas”, afirma.
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