20 perguntas para Xico Sá

15/04/2016 13:25
sempre um papo/Divulgação
(foto: sempre um papo/Divulgação)

Quanto tempo é preciso para se apaixonar?

No Brasil, meia hora, em Minas, 15 minutos. Já fui casado com uma mineira, ave Maria, e sei do que falo.

É possível paixão à primeira vista virtual?

Sim, nem todo nude será castigado.

Para escrever sobre o amor é preciso estar apaixonado?
Não, mas se tiver sai mais gostoso, com mais paudurescência, para usar uma palavra completamente Guimarães Rosa da urbanidade.

Qual a principal diferença do amor do século 19 para o do século 21?

Agora a mentira é mais facilmente detectada. Se Madame Bovary ou Capitu tivessem Facebook, vixe, Flaubert e Machado não passavam da página 20. Para não parecer machista, o médico de Bovary e Bentinho também estragariam o enredo do samba nas redes sociais.

Qual a melhor história de amor já escrita?

A que mais sofri: “Se um cão-vadio aos pés de uma mulher-abismo” (fina flor editora, 2002), um livro de minha imodesta autoria que se esgotou e nunca mais acharemos na vida. Proíbo reimpressão. Queimei meus últimos exemplares.

Cartas de amor e e-mail de amor são a mesma coisa?

Doem do mesmo jeito. Só prefiro a carta pela lambida no selo para colar no envelope.

Um amor nascido virtualmente sobrevive no plano real?

Sim. E vice-versa. Flores a gente reggae.

Qual foi o pior fora que já levou na vida?
O que me rendeu o primeiro cheque sem fundo, ainda do Banco Nacional, final dos anos 1980, Recife: comprei flores caríssimas e um exemplar de Fragmentos do discurso amoroso, livro escrito pelo escritor francês Roland Barthes, e ela só me deu um beijinho triste no rosto e deixou o presente em cima do cesto do banheiro – era festa de aniversário dela.

E a pior decepção amorosa?

Quando tentei ser um homem decente, fazer um filho e ter fé na vida.

Amor sempre rima com dor?
Infelizmente, não existe a sorte de um amor tranquilo.

O que rende um livro melhor: uma história de amor bem-sucedida ou uma grande separação?

Se o escritor for bom, tanto faz. No meu caso, escritor passional e nada genial, só uma porrada amorosa, tipo jovem Werther, me faz um gênio da dor de corno.

Amizade é amor? Ou pode se tornar?

Já fiz de amizade amor e vice-versa. Mas prefiro sempre começar com paixão mordida de cachorro louco. Comendo o calcanhar da nega na entrada de casa e amando até o chefe me demitir por justa causa.

O que acha da amizade colorida?

Pratiquei, não condeno, mas sempre prefiro a ideia que ela será minha para sempre, mesmo que sabendo que é ilusão perdida.

Como vê hoje a figura do macho e da fêmea?

O macho está perdido e a fêmea se acha.

Amor a três (ou mais) é melhor na literatura ou na vida real?

Na fantasia sempre cultuo isso, amo essa ideia, sou voyeur – se minha mulher quiser vou gozar e amar. Sempre penso nisso a cada episódio de Vinyl, a série que acompanho no HBO.

Quem não sente ciúmes não ama?

Ama do mesmo jeito. Sou teu vagabundo vagalume, mas quando estás com outro, me apago de ciúmes. (Fiz esse haicai outro dia.)

Quem se entrega mais no relacionamento amoroso, o homem ou a mulher?

O homem. Paudurescência é amor e entrega.

E quem sofre mais por amor?

O macho, nunca acha que deu conta. Coitado.

A traição é diferente para o homem e para a mulher?

O verbete corna não existe. Fora o dicionário, mesma dor na testa e no miocárdio.

Qual o seu ideal de relacionamento?
Ver uns filmes juntos, ler uns livros juntos, comer umas comidas juntos, beber umas bebidas juntos, e, do nada, beijar na boca e foder como um incêndio no calendário.

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