Escritora mineira Geny Vilas-Novas lança o romance 'Flores de vidro'

No livro, autora tece um delicado relato em que mistura suas memórias com a reflexão sobre o ato de escrever

por Sandra Kiefer 05/02/2016 12:30
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(foto: Divulgação)
Sabe aqueles livros em que você fecha a última página com dó, quase com saudades, desejando que a obra nunca acabe? Nascida em Fernandes Tourinho, no interior mineiro, a escritora Geny Vilas-Novas, que vive atualmente no Rio de Janeiro, conhece bem o coração de seus leitores e leitoras. Sim, a sensação é de que ela se esforça para atender a cada pedido feito por eles em pensamento, aos suspiros que escapam no silêncio do quarto, às aflições que brotam na penumbra do abajur ao lado da cama-box, noite adentro. Para começo de conversa, logo na dedicatória, a autora oferece o seu segundo romance “a todos os pais que têm os filhos morando em países muito distantes”.

Precisa de chamarisco melhor para atrair o olhar de mães e de pais? Quem tem filhos sabe que, desde o momento em que os rebentos cortam o cordão umbilical (real ou do coração), ou escapam por alguns segundos do seu ângulo de visão dentro do supermercado ou decidem fazer intercâmbio no exterior, as noções de distância ganham definições bem concretas. Doídas. “O que é longe e o que é perto? Perto é perto, longe é longe, e todo mundo sabe”, esclarece o trecho escrito pela escritora, que soa intencionalmente irônico.

Bastaria dizer que a autora entregou o Filho (escrito assim, sem nome e com maiúscula) para morar no Japão com a Nora de Olhos Oblíquos. Na mesma época, cogitou em se segurar na Filha de Olhos Cor de Esmeralda, até descobrir que ela iria viver com o Genro de Olhos Cor de Âmbar, que lhe roubou a Filha. “Na verdade, todos viraram filhos e a Mãe não quer que nenhum dos quatro se vá”, desculpa-se a escritora. A todo tempo, Geny Vilas-Novas demonstra a reviravolta interna dos sentimentos e o quanto ela teve de trabalhar intimamente para deglutir a partida dos dois filhos, tanto como mãe quanto como escritora. Ou os dois. A ambiguidade se expressa quando ela não sabe se irá ao aeroporto se despedir da menina, que está de mudança para uma fazenda na Flórida: “A Flórida é logo ali, que bobagem. Transforma o Atlântico em um ribeiro, compra um bote”.

Basta dizer que se tornou impossível para Geny Vilas-Novas esgotar essas questões em um único livro. Seu segundo romance, Flores de Vidro, é, na verdade, parte da trilogia iniciada pela obra Onde está meu coração (2015) e De portas abertas (em produção), que já nascem com o aval da criteriosa Editora 7Letras, do Rio de Janeiro. Nesta segunda fase da narrativa, Flores de vidro ganha os primeiros adeptos já na capa, por intermédio da delicadeza cortante do título. Aos poucos, com cuidado e de maneira até insistente, a autora segue avisando aos leitores que “a Mãe agora é de vidro, sabe que o vidro é delicado, pode se quebrar de uma hora para a outra, e ferir as pessoas”.

Em certo sentido, o alerta faz lembrar o “viver é muito perigoso”, dito inúmeras vezes por Riobaldo em Grande sertão: veredas. A narrativa de Geny Vilas-Novas é minuciosamente trabalhada, como a do genial Guimarães Rosa, mas talvez exija menor dedicação do leitor. A leitura flui com mais leveza. Quem sofre, neste caso, é apenas a autora para transparecer simplicidade: “A literatura tanto alivia quanto mata. Parece paradoxal, mas não é, a Mãe garante. Talvez a melhor definição: ela é exigente. Exige perfeição. O que se faz para alcançá-la não importa. Vai mexer em ninho de serpentes, se prepare, todo cuidado é pouco. O leitor adora páginas em branco. A literatura exige estética na folha escrita, a paragrafação precisa ser adequada, a pontuação no lugar certo e na justa medida”. Simplesmente impecável.

• Flores de Vidro
• De Geny Vilas-Boas
• 7Letras
• 104 páginas
• R$ 36

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