Iniciada em 2002, a série segue com a coleção Baque (2007), em que processos de cisão da voz lírica presentes no livro anterior são retomados numa chave mais expressionista. O autor, assim, volta a abismar-se com a loucura, o suicídio, a disfiguração, numa distopia cheia de fogo e ira. Weintraub é bom e ruim ao mesmo tempo, como nestes versos de Treme ainda: “Falo com a autoridade/ de quem tudo perdeu:/ a esperança não me avilta”.
Weintraub viaja e enxerga dissonâncias, que podem ser abalos naturais ou abalos políticos. O poeta usa técnicas indígenas para inventar e – escutar – melodias. Às vezes, é preciso cair para se colar ao chão, para colar boca e orelha ao fluxo incessante de algo que se espraia para tudo que é lado. Às vezes, faz-se necessário o tombo para vivenciar a plenitude de estar, com direito a estilhaços e castigos. Todo poeta paga caro por se desconstruir. Cabe ao leitor a queda.
Só a poesia é delével. Para dar espaço. Trêmulos, abismados, meio burros, meio bumerangues, numa determinada hora da vida abrimos os olhos e vemos a máquina, as engrenagens, e danamos a tremer. É que sempre, e sempre, “a natureza te traz de volta”.
Weintraub extrai poesia de “sorrisos pequenos”. Caminha desesperadamente, quase solitário, cheio talvez de saudades, “num país sem ruas”, amparado/ desamparado pelo mistério. Porque a vida “contém material sórdido”. A poesia de Weintraub é sorrateira, e, infelizmente, também profética: “Não entrará nesse rio/ uma segunda vez/ até porque/ segunda vez não há/ nem rio existe”.
Toda situação é extrema. A poesia de Weintraub prima pela inovação, pelo desconforto. “Você cava um buraco/ na parede/ e espera/ que alguém/ ou alguma coisa/ cave de volta/ em sua direção.” Essa poética é feita de baques, de um “experimentalismo” que beija a contradição, que se dana de surrealismos. Trata-se de poesia que ofende, “fende a tempestade”. “Entre estilhaços de céu”, o melhor texto apenas supõe. Cabe ao leitor o desespero da busca.
Em Treme ainda, Weintraub mantém as armas apontadas para o vazio. Entram em cena, tomando conta de tudo, acidentes de trabalho, a ideia do absurdo, do isolamento da arte com seus privilégios e padecimentos.
Fabio Weintraub é paulistano, psicólogo e doutor em letras pela Universidade de São Paulo (USP). Seu livro Baque foi lançado em Portugal. Poemas dele foram publicados também no México e nos Estados Unidos.
TREME AINDA
• De Fabio Weintraub
• Editora 34
• 96 páginas
• R$ 29 .