O enredo acompanha os dias do solitário Guylan, solteiro, na casa dos 30 anos. Ele é funcionário de uma usina que elimina livros. Fora do trabalho, a rotina é alimentar o peixe dourado e visitar o colega Giuseppe, que teve as pernas amputadas em um acidente na empresa. A exaustiva condição inicial de “nada acontece” chega a afligir o leitor mais afoito, ávido por novidades.
À medida que a leitura avança, é possível perceber que a detalhada descrição do trabalho na usina se faz necessária.
Nessa jornada, a máquina, com seus dentes de aço, consome romances, contos e receitas. O que é inaceitável para Guylan, amante da leitura. Diariamente, ele salva algumas páginas da “boca” do monstro. E aí a obra começa a ganhar vida. As folhas, com trechos diversos, são lidas em voz alta por ele no trem, no trajeto para o trabalho. Mais do que desagradar, o hábito é bem recebido por outros passageiros. Justamente a falta de sequência das histórias desperta atenção e curiosidade.
Jean-Paul fisga de vez o leitor quando o protagonista encontra trechos misteriosos de um diário no vagão. Você se vê absorvido pelos relatos e nem se dá conta de quantas páginas ou horas se passaram. O texto se torna saboroso. Tudo o que se quer é descobrir se haverá aquele clichê esperado, o final feliz.
A obra se desenrola em torno do poder dos livros e da literatura.
O LEITOR DO TREM DAS 6H27
De Jean-Paul Didierlaurent
Editora Intrínseca
175 páginas
R$ 34,90.