Fotógrafo do Estado de Minas busca vestígios de Franz Kafka na capital tcheca

Profissional encontrou uma metrópole diversa e cosmopolita, mas que ainda guarda traços que inspiraram o escritor

por Alexandre Guzanshe 25/09/2015 09:32

Alexandre Guzanshe/ EM/D.A.Press
Escadaria da Ponte Carlos (foto: Alexandre Guzanshe/ EM/D.A.Press)
Certa vez, K. disse: “Nunca se vai conseguir ver a alma de um homem através de uma lente”. Para um fotógrafo, essa frase de Franz Kafka é difícil de encarar. Estava em Praga, cidade natal desse escritor, nascido em 1883, que criou uma obra única e genial. E tinha a missão de realizar um ensaio sobre a Praga de Kafka. Perseguir Kafka e suas viagens não é nada fácil. Traduzir sua obra em imagens, apreender sua alma e seu espírito através de uma lente é realmente uma experiência kafkiana – desculpem-me o clichê. E a dúvida me bateu dias antes de chegar a Praga. Cor ou preto e branco? Mas a gente inventa e tenta reinventar.

 

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A Praga de hoje é muito diferente da cidade onde ele nasceu e viveu. É uma cidade cosmopolita, onde se escutam diversos idiomas e que revela facetas diversas a gente de todas as procedências. Passou por guerras, revoluções, dominação e submissão, protestos, destruição, separações, morte e paz. Kafka escreveu sobre isso. Mas Kafka está por toda Praga, seja no museu, na praça, nos cafés, no absinto, nas obras de Kundera ou de David Cerny.

Seguir os passos de Kafka foi uma experiência reveladora. Percorri os lugares pelos quais ele passou. Fui onde ele nasceu, na Cidade Velha, e onde ele viveu, na Cidade Pequena. Cruzei a Ponte Carlos, que une as duas partes da cidade. Passei pelo Castelo de Praga, construído no século 9 e que hoje abriga a sede do governo tcheco. Caminhando pelas ruas de Praga, seguindo os passos do escritor que escrevia pra ele e sobre ele, busquei captar uma Praga contemporânea, repleta de jovens, com seus parques, restaurantes e cafés. Em um muro, se lê: “The wall is over” (O muro acabou), referência ao grito pacifista de John Lennon e também ao regime totalitário que vigorou por décadas no país.

A obra de Kafka, verdadeira imersão na existência humana, é difícil de ser traduzida em imagens. Apesar do calor e do pouco tempo que tive para flanar por Praga, a experiência me marcou. E o meu ensaio fica por conta dos lugares onde Kafka passou, trabalhou e viveu. Foi a busca de captar os traços do escritor em uma Praga que passou por uma grande metamorfose.

* O repórter viajou a convite do Grupo V4, com o apoio dos escritórios de turismo da Hungria, Polônia, Eslováquia e República Tcheca.

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