Atirador brasileiro Felipe Wu faz improvisos para treinar

Atleta compartilha história de dificuldades comum no esporte brasileiro

por Estado de Minas 14/08/2015 10:25
CBDU/Divulgação
Felipe Wu, campeão pan-americano da pistola de 10m (foto: CBDU/Divulgação)
Sete metros separam o atirador Felipe Almeida Wu, de 23 anos, do alvo de papelão emoldurado por plástico reforçado, pendurado no portão da garagem de casa, no Bairro Itaim Bibi, em São Paulo. Sua história é uma das tantas que ocorrem no país e reflete as difíceis condições apresentadas pela pesquisadora Kátia Rúbio. Entre escadas, fios e armários, em um estande improvisado e três metros menor que o ideal, o jovem treina desde os 12 anos sem patrocínio, visibilidade ou munição – o que não o impediu de se tornar vice-campeão olímpico da juventude e medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no mês passado, na pistola de 10m, uma das nove provas do tiro esportivo que fazem parte do programa olímpico.

“A estrutura de treino nossa é muito precária, falta planejamento”, afirmou Wu. “Em São Paulo, não tem nenhum estande de tiro que atenda às minhas necessidades, de 10m ou 50m, por isso decidi treinar em casa. Agora é que o Clube Hebraica me ofereceu um espaço para treinar”, explicou. Com o título no Canadá, Wu garantiu vaga para o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio’2016, sem depender de convite da federação internacional.

O tiro esportivo é pouco divulgado e praticado no Brasil. Na prova, a arma utilizada é uma pistola que precisa ser importada, assim como a munição. Os treinos de Felipe esbarram na falta de apoio, dinheiro e o principal: munição. “A importação depende de autorização do Exército e da Receita Federal. Isso demora muito. Por semana, se eu tivesse à disposição, gastaria 400 tiros. Aproximadamente R$ 500 por semana”, afirma o atleta. “Não há treinamentos, nem munição.”

Felipe começou a atirar ainda criança, aos 9 anos, levado pelo pai, Paulo, um professor de física de origem chinesa e instrutor de tiro por hobby. Com ele, começou a praticar em um quartel perto de casa e competiu pela primeira vez em 2004, aos 12 anos. Em 2010, conquistou a prata na Olimpíada da Juventude de Cingapura. É dele o recorde brasileiro júnior, sênior em finais e por equipes. No nível adulto, a conquista do ouro no Pan-Americano, em Toronto, lançou holofotes à história de superação de Wu, que logo ficou marcado como “o atirador que treina na garagem de casa”.

A um ano dos Jogos Olímpicos, sente-se confortável. “Pelo fato de o tiro exigir muita concentração, na hora da competição estarei totalmente focado em minha atividade e, como o esporte é individual, a torcida pouco pode influenciar. Fico feliz que as pessoas apostem em mim.”

PARA LER MAIS
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