Vestindo uma camisa polo e com um ar de leveza de quem está de férias, o tom de sua voz se tornou sério ao começar a falar sobre sua história, impregnada pelos tristes e violentos fatos dos últimos 50 anos em seu país. Sua análise arguta sobre o jogo político e sua perseverança em apontar soluções concretas à guerra civil que cinde a sociedade colombiana o tornaram uma das vozes mais proeminentes – e eficazes – na direção de uma reconciliação nacional. A batalha de León Valencia, atualmente, nunca esteve tão próxima de ser vencida.
Atuante como dirigente do ELN entre 1987 e 1994, diz ter passado por três etapas. “Uma etapa é de uma ilusão muito grande de que poderíamos mudar a Colômbia e poderíamos recuperar a dignidade das pessoas.” Durante a experiência, diz ter vivido “sentimentos muito desencontrados”. Com o tempo, as ações da guerrilha – assassinatos e sequestros – o desiludiram.
“Essa não é a minha guerrilha”, lembra-se da decisão. Com o afastamento da luta armada, Valencia optou por outras vias em busca de soluções. Fundou organizações civis de investigação para compreender os meandros do conflito e conquistou espaço.
Hoje, dirige a Fundación Paz y Reconciliación, de pesquisa e debate, mantém uma coluna na Semana, a mais importante revista do país, o programa de TV La controvérsia, no canal Capital, de Bogotá, e o portal independente Las 2 Orillas, de investigação e informação política, o mais visto na Colômbia.
Foram avanços substanciais e importantes, assim como a concordância em se criar uma Comissão da Verdade para esclarecer fatos e estabelecer responsabilidades sobre violações cometidas pelos dois lados.
A reparação das vítimas e as punições a serem aplicadas ainda são motivos de divergências. E alimentam uma forte oposição. Radicais buscam minar o diálogo de paz defendendo ideais fora da realidade. Episódios de violência fazem o diálogo titubear. No entanto, Valencia mantém firme sua convicção de que os altos e baixos e os reveses são naturais de um processo tão espinhoso.
Em entrevista exclusiva ao Pensar, fala claramente sobre o temor, entre os militares, de serem incluídos em qualquer possível lista de condenados. “Há 4 mil militares e policiais presos e 14 mil investigados”, diz. Mas pondera que “não se pode chegar a uma solução na qual os guerrilheiros entrem para a política e alguns dos militares acabem presos”. “Isso não é mais possível para uma paz verdadeira”, constata.
Além de apresentar alternativas concretas para resolver impasses, Valencia, otimista, já elabora caminhos para lidar com um cenário pós-conflito. A reconciliação, ele sabe, deve levar tempo. “Temos que aprender a lidar com essas questões.”