Modernismo reacionário

por 13/06/2015 00:13
Ed Alves/CB/D.A. Press
Ed Alves/CB/D.A. Press (foto: Ed Alves/CB/D.A. Press)
Eleonora de Lucena



O país vive uma onda conservadora. “Há um modernismo reacionário que sempre é favorável ao sistema capitalista, por mais que critique esse ou aquele aspecto da vida política, como a corrupção e a má administração”. É o que avalia Michael Löwy, sociólogo paulista radicado em Paris. Junto com o norte-americano Robert Sayre, ele lançou o livro Revolta e melancolia.

Para Löwy, o elemento mais preocupante da extrema-direita conservadora no país, sem paralelo com a que existe na Europa, é o apelo aos militares. “O saudosismo da ditadura militar é o aspecto mais sinistro da recente agitação de rua conservadora no Brasil”, diz. As semelhanças com o movimento de direita europeu surgem, segundo ele, na ideologia repressiva, no culto à violência policial – como na “bancada da bala” nos parlamentos – e na intolerância com as minorias sexuais.

Do outro lado do espectro político, Löwy relaciona a crise do PT com a “perda de seu horizonte radical”. Afirma que o partido perdeu contato com suas bases populares, aderiu ao receituário neoliberal e fez desaparecer de seu programa a tese socialista. Alinhado com a esquerda, ele advoga que outras organizações, como o PSOL ou o PSTU, não conseguiram ocupar o espaço que havia sido do PT, ainda que possam vir a fazê-lo no futuro.

“Quem vai decidir se haverá uma saída para a esquerda serão os movimentos sociais: os sem-terra, os sem-teto, os sindicalistas, os ecologistas, os indígenas, as mulheres, os afro-brasileiros”, opina.

ROMANTISMO

Revolta e melancolia percorre música, literatura, artes plásticas, filosofia. Rousseau, Goethe, Stravinski, Rosa Luxemburgo, Tolstói, Marx e Balzac compõem a trama da análise. Para os autores, o romantismo não é só um movimento artístico do século 19: está nas jornadas de maio de 1968, na luta ambiental, nas artes no Brasil dos anos 1960, na resistência armada à ditadura militar, em protestos contemporâneos na Europa, nos EUA e na América Latina.

A ênfase está no que os sociólogos definem como romantismo revolucionário – “o que não deseja uma volta ao passado, mas uma volta pelo passado, em direção à utopia futura”, diz Löwy.

Publicado em francês originalmente em 1992, o livro interpreta manifestações de oposição ao avanço capitalista. “Naturalmente, o romantismo se transformou. Suas formas são diferentes das do século 19 e das de 30 anos atrás. Mas a análise continua válida. O romantismo é uma crítica à civilização burguesa, que continuará a existir enquanto persistir a burguesia”, afirma o brasileiro. (Folhapress)

REVOLTA E MELANCOLIA
. De Michael Löwy e Robert Sayre
. Boitempo
. 288 páginas, R$ 57

MAIS SOBRE PENSAR