No olho do furacão

Geraldo Veloso lança livro sobre a sua experiência de escrever, dirigir, fotografar e produzir filmes em Minas Gerais. Coleção Dossiês propõe reflexão sobre o cinema

por 06/06/2015 00:13
Marcos Vieira/EM/D.A Press
Marcos Vieira/EM/D.A Press (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Walter Sebastião



Hoje de manhã, o diretor Geraldo Veloso vai lançar o segundo volume de uma coleção que promete a retomada, em Belo Horizonte, da produção reflexiva sobre a produção cinematográfica: O cinema através de mim – A longa trajetória de Theobaldo Odisseu de Almeida.

Primeiramente, o título indica a visão pessoal do cinema e do mundo por parte do autor. “Não é volume de memórias”, avisa Geraldo Veloso. Irônico, o subtítulo alude à família ficcional onipresente nas obras do diretor. Em todos os longas dele há um Almeida.

O livro é o segundo volume do projeto Dossiês, criado pelo Centro de Estudo Cinematográficos (CEC). As publicações reúnem artigos, depoimentos, filmografia e material relativo a debates sobre cinema. Para Geraldo Veloso, Dossiês materializa o que ele considera a vocação do CEC: “É um centro de estudos”, afirma.

O diretor lembra que o cineclube editou, entre 1954 e 1964, a Revista de Cinema. Criada pelo jornalista Cyro Siqueira, foi uma das publicações mais importantes daquela época, aclamada até hoje. O projeto Dossiês lançou também Godard, cinema e literatura, assinado por Mario Coutinho.

“Em O cinema através de mim..., misturo vozes, estilos, perspectivas e vários tipos de textos buscando vários modos de observar as coisas. Mas tudo passa pelo meu umbigo”, avisa Geraldo Veloso. Para ele, o cinema é sempre novo. “São novas tecnologias, outras dramaturgias, combinações várias que sempre são possibilidades de descobrir um novo ponto de vista para falar da vida e do mundo”, garante. Isso ocorre mesmo em momentos como o atual, em que, na opinião de Veloso, a produção vem se repetindo ou “buscando a si mesma”, como mostram refilmagens, citações, evocações a gêneros e estéticas.

FAMÍLIA

Geraldo Veloso tomou gosto pelo cinema graças aos pais, que levavam os filhos para ver filmes. Mas a diversão se tornou paixão quando o jovem estudante do Colégio Estadual encontrou colegas que tinham no cinema uma referência de descoberta da vida. Dali para frequentar o Centro de Estudos Cinematográficos foi questão de tempo.

“Víamos filmes como os do Cinema Novo, da Nouvelle Vague, do Neorrealismo Italiano e pensávamos: isso dá pra fazer. Percebemos que o ato de filmar não era tão distante. Foi assim que decidimos trocar a reflexão sobre cinema pela realização de filmes”, recorda.

Em 1965, Geraldo Veloso atuou como assistente de produção de Joaquim Pedro de Andrade, um dos talentos do Cinema Novo, no filme O padre e a moça. Carlos Alberto Prates, também da turma do Colégio Estadual, trabalhou como assistente de direção. Desde então, Veloso não parou mais. Produziu, dirigiu, escreveu roteiros, foi técnico de som, fez fotografia, criou festivais, como o de Curtas e o Panorama Mundial do Cinema Independente.

“Nos últimos 50 anos, não fiz outra coisa senão ficar nas bordas do cinema e, eventualmente, no olho do furacão”, brinca. “É muito”. Por isso, ele não se incomoda com sua curta filmografia, embora admita que gostaria de ter filmado mais. Geraldo dirigiu os longas Perdidos e malditos (1970) e Homo sapiens (1975); os curtas Toda memória de Minas (1978) e Uma cidade na prancheta (1997). Comandou também um episódio do longa O circo das qualidades humanas (2000).

O cinema, avisa, sempre teve presença na cena cultural de Minas Gerais desde o início do século 20. “Em ondas, com oscilações, idas e vindas, mas sempre fizemos filmes. Temos uma produção rica, ainda que sem presença no mercado, mas isso não é um problema do estado, mas do cinema brasileiro. No Brasil, nunca foi fácil fazer filmes”, conclui Geraldo Veloso. O lançamento está marcado para hoje, às 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). O exemplar custa R$ 50. Informações: (31) 3227-3077.




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