Papo de compadres

Conversa do escritor argentino Julio Cortázar com amigo jornalista rende momentos saborosos no livro A fascinação das palavras, que está sendo reeditado no Brasil

por 25/04/2015 00:13
AFP Photos/STR
AFP Photos/STR (foto: AFP Photos/STR)
Ciro Pessoa



“Aceito. Mas terá que ser um livro muito louco!”, respondeu o argentino Julio Cortázar ao escritor e jornalista uruguaio Omar Prego Gadea, selando, com essas palavras, o acordo de conceder um número indeterminado de entrevistas ao amigo. Meses depois, em julho de 1983, começava a série de conversas que só iria ter fim com a morte de Cortázar, 10 encontros e um ano depois.

O resultado desses encontros está no livro A fascinação das palavras (Civilização Brasileira), que ganha nova edição no Brasil. Envolvida num clima de absoluta cumplicidade, a conversa entre os amigos flui e jorra dezenas de preciosas reminiscências, revelações e reflexões do autor de O jogo da amarelinha. É um banquete saborosíssimo para os aficionados em sua obra e um convite para aqueles que ainda não mergulharam no surreal e fantástico mundo cortazariano.

Na primeira parte, dedicada à infância, Cortázar, além de revelar sua dificuldade em falar do assunto (“minhas lembranças são fragmentos de lembranças”), relembra a fascinação que as palavras sempre exerceram sobre ele. “Uma das minhas lembranças da infância é me ver escrevendo palavras com o dedo numa parede. Eu esticava o dedo e escrevia palavras, vendo se formarem no ar. Palavras que já então eram, muitas delas, fetiches, palavras mágicas.”

Mas A fascinação das palavras, o livro, encontra seu êxtase quando o escritor revela a origem, a inspiração e a técnica para escrever seus primorosos contos. “Calculo que pelo menos 20% dos meus contos surgiram de pesadelos”, diz, ao relatar como chegou a um de seus mais famosos textos, “A casa tomada” (do livro Bestiário), no qual dois irmãos são acuados em casa por um estranho ruído. “Nasceu de um pesadelo...”

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