O resultado desses encontros está no livro A fascinação das palavras (Civilização Brasileira), que ganha nova edição no Brasil. Envolvida num clima de absoluta cumplicidade, a conversa entre os amigos flui e jorra dezenas de preciosas reminiscências, revelações e reflexões do autor de O jogo da amarelinha. É um banquete saborosíssimo para os aficionados em sua obra e um convite para aqueles que ainda não mergulharam no surreal e fantástico mundo cortazariano.
Na primeira parte, dedicada à infância, Cortázar, além de revelar sua dificuldade em falar do assunto (“minhas lembranças são fragmentos de lembranças”), relembra a fascinação que as palavras sempre exerceram sobre ele. “Uma das minhas lembranças da infância é me ver escrevendo palavras com o dedo numa parede. Eu esticava o dedo e escrevia palavras, vendo se formarem no ar. Palavras que já então eram, muitas delas, fetiches, palavras mágicas.”
Mas A fascinação das palavras, o livro, encontra seu êxtase quando o escritor revela a origem, a inspiração e a técnica para escrever seus primorosos contos. “Calculo que pelo menos 20% dos meus contos surgiram de pesadelos”, diz, ao relatar como chegou a um de seus mais famosos textos, “A casa tomada” (do livro Bestiário), no qual dois irmãos são acuados em casa por um estranho ruído. “Nasceu de um pesadelo...”