Quatro perguntas para... Amanda Palmer , cantora, compositora e pianista

por 18/04/2015 00:13
Não se escrevem mais do 140 caracteres por vez no Twitter. Como foi para você, uma usuária frenética do Twitter, a experiência de escrever um livro?
Escrever um livro, devo dizer, é uma maneira muito solitária de fazer arte, tanto que não me fez querer largar a música. Na verdade, para tudo há prós e contras. É um processo entediante se comparado ao que estou fazendo agora. Atualmente, estou em turnê, me encontrando com mil pessoas a cada noite. O que é algo concreto e demanda muita atenção. Por outro lado, o maravilhoso de escrever um livro é que você tem um grau de controle enorme, algo que nunca tinha tido antes. As pessoas podem discuti-lo, gostar dele ou odiá-lo, mas o livro existe por ele mesmo, nada vai mudá-lo. E com a experiência de 15 anos escrevendo na internet, isso é muito libertador. Ter controle total, ficar na sua pensando o que você vai dizer sem ninguém mais envolvido é um grau de liberdade que a solidão e o tédio são um pequeno preço a pagar.

A internet foi essencial para que seu trabalho fosse conhecido no mundo inteiro. Mas você já era artista antes de ela existir. Sua arte mudou por causa da internet?
Mudou uma série de coisas, principalmente a maneira como me comunico com meu público. E mudou também a forma como meu público dá retorno ao que faço. Posso te dar um exemplo simples e concreto: há seis anos fiz em Los Angeles um cover de um artista chamado Momus (músico escocês). Era uma pequena canção divertida (I want you, but I don’t need you) que eu teria tocado uma única vez na vida. Mas havia alguém na plateia que gravou a canção e colocou um clipe no YouTube. Meus fãs adoraram a música, que foi visualizada quase um milhão de vezes. Porque isso ocorreu, resolvi incluí-la no repertório dos meus shows. Não fosse o YouTube, isso nunca teria acontecido, a canção teria vivido naquela única noite.

O público é parte do seu trabalho como artista. Existe arte sem público?
Acho que existem muitas pessoas que produzem um trabalho pessoal, terapêutico, que ninguém nunca vai ver. Isso não significa que não seja arte. Também faço coisas bem diferentes, como desenhos e um diário que mantenho somente para mim. Isso me deixa muito feliz por poder fazer o que quiser, poder ser estúpida o quanto queira. Essas coisas nunca serão vistas por qualquer tipo de plateia. Mas adoro a parte em que um ser humano se conecta com outro. Para mim essa é a razão de a arte existir. Toda vez que vejo que uma música, uma performance, este trabalho no fundo conecta as pessoas. E serve ainda para conectar o artista com si próprio.

Você acredita que um artista independente pode sobreviver no mundo atual sem fazer uso de redes sociais?
Absolutamente. Conheço uma série deles que não fazem uso e são bem-sucedidos. Mas eles geralmente têm algum tipo de ajuda. Hoje em dia, para um artista que não faça uso da internet, que não quer se comunicar com seu público, as chances de que tenha alguém fazendo isso por ele são grandes. Essa é a beleza da internet, pois há uma multidão jogando muita energia para você. E mesmo se você for um artista realmente introvertido, se sua arte for fantástica, o sistema vai funcionar para você. Haverá certamente pessoas atuando como amplificadoras em seu nome. Ou então o artista poderá simplesmente contratar alguém que faça isso por ele.

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