Uma dose a mais de anarquia

por 11/04/2015 00:13
Antonio Gonçalves Filho

Thomas Pynchon mudou e continua o mesmo em Vício inerente, volumoso painel (464 páginas) do que foram os anos 1970 com seus hippies e a “sociedade alternativa”, vinda da década anterior. Pynchon mudou porque se exibe mais como malabarista verbal em Vício inerente, superando a retórica enlouquecida de seus livros mais antigos, entre eles, O arco-íris da gravidade, que, desde seu lançamento, em 1973, continua a bíblia da contracultura.

Pynchon permanece o mesmo porque Vício inerente lida basicamente com a linguagem inspirada em veículos de comunicação de massa – quadrinhos, Pulp fiction – sem abdicar das referências literárias da alta cultura. O que diferencia Vício inerente dos outros livros de Pynchon – Contra o dia, Mason e Dixon, Vineland, todos publicados no Brasil pela Companhia das Letras –, é uma dose a mais de anarquia.

Primeiro, Vício inerente já começa como um pastiche de um gênero gasto, a novela noir em que um detetive se envolve com gente da pior espécie e, obviamente, acaba metido em confusão – o que é de se esperar de um freak tão sem noção que batiza sua firma de LSD (Location, Surveillence and Detection). Finalmente, Pynchon não tem o mínimo pudor em reciclar personagens (Vineland, em especial), embora para compor sua epopeia mais lisérgica.

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