Orelha

por 11/04/2015 00:13
Renato Parada/Divulgação
Renato Parada/Divulgação (foto: Renato Parada/Divulgação)


Faturamento cai

A crise que deve se confirmar no ano do mercado editorial brasileiro começa a dar as caras no primeiro Painel das Vendas de Livros do Brasil, apresentado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pelo Instituto de Pesquisa Nielsen: no primeiro trimestre de 2015, a venda de livros em livrarias cresceu 1,6% em faturamento e 3% em volume em relação ao mesmo período de 2014. Os números, porém, ficam abaixo da inflação – de acordo com o sindicato, houve uma queda real em faturamento de cerca de 5%. Este é o primeiro comparativo divulgado pelo SNEL com base nas pesquisas da Nielsen, que coleta dados direto da “boca do caixa” de livrarias, supermercados e lojas on-line. O objetivo, segundo o sindicato, é dar mais transparência à indústria editorial brasileira. O estudo deve ser divulgado mensalmente a partir de agora.

Fusão de editoras

A integração entre as editoras Companhia das Letras e Objetiva se completou oficialmente com a criação do Grupo Companhia das Letras. Com isso, a empresa Editora Schwarcz passa a controlar a gestão e 55% das ações do novo grupo, tendo como sócia a Penguin Random House, que fica com os outros 45% de participação. “Na prática, isso significa uma participação mais ativa dos publishers – agora com plena responsabilidade na gestão da empresa – e também de uma divulgação mais ativa, especialmente dos autores que vieram do catálogo da Objetiva”, comenta Luiz Schwarcz (foto), diretor do grupo. Roberto Feith, que deixou o comando diário da Objetiva, passa a ser consultor da diretoria, editor especial e representante nas entidades de classe do Grupo Companhia das Letras.

***

O processo de fusão das duas editoras começou em 2014, quando foi montada uma nova estrutura editorial. Em janeiro deste ano, foi dado o passo seguinte, com a fusão das equipes de vendas. E, para o primeiro semestre deste ano, estão previstas a integração de sistema e das áreas administrativas, bem como a mudança do estoque para um novo depósito. Com a fusão consumada, o Grupo Companhia das Letras passa a contar com 19 selos que lançam em média 45 novos títulos por mês e exibindo cerca de 5 mil títulos ativos em seu catálogo. Em 2014, as editoras Companhia das Letras e Objetiva venderam conjuntamente 7,5 milhões de exemplares (incluindo e-books) e tiveram 59 títulos na lista dos mais vendidos do PublishNews. A união dos catálogos prevê ainda a formação de um forte time de autores, tanto nacionais (Milton Hatoum, Lygia Fagundes Telles etc.) como estrangeiros (Mario Vargas Llosa, Amós Oz, entre outros).

Biografia


A editora Record acaba de lançar a biografia de Carlos Castello Branco, o maior colunista político do Brasil. Política, literatura e jornalismo são os três pilares que definem a vida de Carlos Castello Branco, o Castelinho. Por isso, a biografia Todo aquele imenso mar de liberdade (560 páginas, R$ 60), do jornalista Carlos Marchi, conta também um pouco da história da imprensa e do cenário político brasileiro da época em que ele viveu, entre as décadas de 1940 e 80.

***

Prestigiado colunista político e membro da Academia Brasileira de Letras, Castelinho conviveu com os maiores personagens da história do país e atravessou períodos turbulentos na política, como a renúncia de Jânio Quadros, de quem foi secretário de Imprensa, e o golpe militar de 1964, quando o país mergulhou numa ditadura que duraria até 1985.

Dois segundos



Revelada em 2012, ao concorrer ao Man Booker Prize, o mais prestigiado prêmio literário na Inglaterra, com seu primeiro livro, A improvável jornada de Harold Fry (Objetiva), a escritora e ex-atriz inglesa Rachel Joyce (foto), de 53 anos, trata, em seu segundo romance, Operação perfeito (Objetiva, 304 páginas, R$ 29,90), de um tema caro a outros autores ingleses: o tempo. Nele, um garoto de 11 anos, Byron Hemmings, testemunha um acidente que vai mudar sua vida: a mãe, dirigindo numa estrada em dia de nevoeiro, atropela uma pequena ciclista e foge em disparada, omitindo a ocorrência do marido, uma figura ausente na família, que passa a semana trabalhando no mercado financeiro em Londres e só ocasionalmente vê os dois filhos – Byron e sua irmã Lucy. Paralelamente, Rachel Joyce, que integrou durante 20 anos a Royal Shakespeare Company, conta no livro a história de um homem maduro cuja vida foi uma sucessão de tragédias. Os dois dramas seguem em paralelo, mas o ponto de partida é o mesmo: o acréscimo (real) de dois segundos no tempo, em 1972, para compensar o movimento da Terra. Quarenta anos depois, esses segundos fazem toda a diferença na vida de Byron. (Antonio Gonçalves Filho)

Nazismo


Em um discurso para preparar a Alemanha para a guerra que ele tanto queria, Adolf Hitler disse que “o vitorioso não terá de explicar depois da guerra se contou a verdade ou não”. Com sua crueza habitual, o ditador nazista resumiu a essência do pensamento totalitário, em que conceitos como “mentira” e “verdade” são irrelevantes, pois o que importa é o poder – este sim, o único mediador da realidade. Assim, aos alemães restava acreditar no que diziam Hitler e sua máquina de propaganda, pois somente essa fantástica estrutura de dominação tinha a capacidade de revelar a verdadeira face do inimigo e suas tramoias. A força dessa propaganda tornou-se, com justiça, um dos principais objetos de estudo da historiografia do fenômeno nazista, e não surpreende que Joseph Goebbels, o chefe da estrutura de comunicação do Terceiro Reich, tenha se transformado em um personagem quase tão citado quanto o próprio Hitler quando se pretende retratar o espírito do regime, pois foi de sua lavra grande parte da retórica que o sustentou. Contudo, raros são os estudos que explicam a engenharia desse aparato, isto é, como a narrativa foi construída e de que maneira ela foi imposta aos alemães. É esse o mérito do livro Inimigo judeu (Edipro, 392 páginas, R$ 55,20), do historiador norte-americano Jeffrey Herf, um dos principais estudiosos do pensamento que resultou no nazismo. (Marcos Guterman)

MAIS SOBRE PENSAR