Trata-se de um significativo aumento, embora o volume continue sendo modesto, já que as obras religiosas representam menos de 1% do total das vendas, segundo o sindicato do setor. Os assassinatos de 17 pessoas, cometidos por três jovens franceses muçulmanos contra caricaturistas e jornalistas do jornal Charlie Hebdo, policiais e judeus, somados ao horror causado pelas atrocidades perpetradas pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque provocaram uma comoção na sociedade francesa, onde vive a maior comunidade muçulmana da Europa, estimada entre 4 milhões e 5 milhões de pessoas.
“Os franceses questionam cada vez mais e se satisfazem cada vez menos com as respostas superficiais oferecidas pela imprensa”, diz Fabrice Gerschel, diretor da revista Philosophie magazine, cujo número especial “O Alcorão”, fechado em março-abril, está praticamente esgotado na capital francesa. “O denominador comum de todos os clientes que compram obras sobre o islã é entender e depois formar uma opinião própria”, afirma Mathilde Mahieux, da livraria religiosa La Procure de Paris, uma das maiores da Europa.
O alcorão é violento?
“Eu atendi uma cliente muito católica que veio comprar um Alcorão, pois queria entender sozinha se essa é uma religião violenta ou não”, contou Yvon Gilabert, diretor da livraria Siloe, em Nantes. Essa necessidade de entender se estende a um renovado interesse acadêmico. Uma cátedra dedicada ao estudo do Alcorão, que contém a mensagem transmitida por Deus a seu profeta Maomé, foi inaugurada na respeitada Collège de France.
Jean Rony, professor da Sorbonne, também passou a ler o Alcorão: “Considerando a situação, acrescentei aulas dedicadas às religiões monoteístas em minha disciplina de cultura geral, destinadas aos estudantes que se preparam para ser magistrados”, explica. A curiosidade também cresceu entre os próprios muçulmanos. “Nossas vendas do Alcorão cresceram 30% no primeiro trimestre. Ocorreu o mesmo depois do 11 de setembro de 2001”, lembra Mansour Mansour, diretor da Albouraq, uma das maiores editoras de obras religiosas muçulmanas em francês.
Desta vez, o fenômeno parece mais duradouro “porque o islã continuará relacionado a problemas no âmbito geopolítico”, devido à atualidade no Oriente Médio. A leitura desse texto poético e polissêmico, escrito entre 610 e 656, continua sendo árdua para um iniciante no assunto, adverte Mansour: “Aconselho que essa não seja a primeira leitura. É melhor ler antes uma biografia do profeta”.