As contas de Jeromin

Paulo Sandroni lança romance sobre um capataz e um fazendeiro às voltas com a modernização do campo. Professor de economia, o autor busca explicar conceitos complicados por meio da ficção

por 04/04/2015 00:13
Fernando Sampaio/AE
Fernando Sampaio/AE (foto: Fernando Sampaio/AE)
Cley Scholz



O economista Paulo Sandroni sempre se preocupou em buscar formas criativas de ensinar economia a seus alunos e leitores. Como professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da PUC de São Paulo, ele costuma desenvolver jogos para facilitar o entendimento de questões econômicas.

O livro Traduzindo o economês (Editora Best Seller) faz parte desse esforço de popularizar os conceitos do mundo econômico, assim como O que é a mais-valia (Brasiliense), ambos lançados há alguns anos. Com dois prêmios Jabuti, em 1995 e 2000, por seu Dicionário de economia, o professor resolveu recentemente escrever um romance com temas econômicos. O propósito é o mesmo: despertar o interesse dos jovens estudantes por conceitos nem sempre fáceis de traduzir.

RODAPÉ

O livro de estreia de Sandroni na ficção é resultado de uma experiência com fins didáticos. Era para ser um enredo recheado de notas de rodapé com explicações sobre atividade agrícola, usucapião, mais-valia, posse e propriedade, entre outros temas frequentes nas aulas de economia na FGV, em São Paulo. Ao final de dois anos de trabalho, o editor recomendou que todas as notas explicativas fossem suprimidas, para que os leitores pudessem aproveitar sem interrupções a empolgante história narrada em Jeromin – Memórias de um capataz.

O patrão de Jeromin é o doutor Militão, fazendeiro que usa métodos cada vez mais arcaicos para resolver os problemas agrários à medida que perde a memória. O ambiente criado pelo autor traz muito mais do que os dramas impostos ao homem do campo pela evolução dos métodos de produção. Revela também sua experiência como pesquisador do meio rural, apaixonado pela vida no campo e pescarias.

EXÍLIO

Ao voltar ao Brasil depois do exílio durante o regime militar, Sandroni trabalhou como pesquisador rural no Nordeste. Antes, estudou a fundo a produção de café na Colômbia e foi professor em Bogotá. Também morou no Chile, onde trabalhou como professor universitário até a derrubada do governo de Salvador Allende.

Agora, o professor prepara uma versão acadêmica, que ganhará notas explicativas com todos os conceitos econômicos que aparecem na narrativa do romance, com ênfase nas novas formas de avanço do capitalismo no meio rural destruindo estruturas pré-capitalistas que ainda sobrevivem em grande parte da agricultura brasileira.

OBRAS


O que é mais-valia
Traduzindo o economês
Dicionário de economia
Novo dicionário de economia
Novíssimo dicionário de economia
Jeromin – Memórias de um capataz

JEROMIN – MEMÓRIAS DE UM CAPATAZ
. De Paulo Henrique Sandroni
. Editora Biblos
. 212 páginas, R$ 30

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