Na onda de Leminski

por 28/03/2015 00:13
MON/reprodução
MON/reprodução (foto: MON/reprodução)

A exposição Múltiplo Leminski, em cartaz até 3 de maio na Caixa Cultural, em São Paulo, vem se somar à “onda” em torno do aclamado poeta paranaense. Vinte e cinco anos depois de sua morte, Paulo Leminski tem conquistado os jovens do século 21. Aberta em Curitiba, em 2012, a mostra atraiu nada menos de 330 mil pessoas em cinco cidades. Enquanto isso, novas edições de seus versos, lançadas pela Companhia das Letras, já ultrapassaram 150 mil exemplares vendidos.
Com objetos pessoais, cadernos, poemas inéditos, edições originais e cenografia assinada por Miguel Paladino, a exposição paulistana traz novidades. É o caso da escrivaninha de trabalho original com livros de Paulo em várias línguas, além de poemas inéditos anotados em cadernos ou pedaços de papel.


Morto precocemente aos 44 anos, em 1989, o curitibano é um dos ícones da poesia brasileira do século 20. Aurea Leminski, filha do escritor e uma das curadoras da mostra, diz que o propósito é revelar ao público como se dava o processo de criação do pai. “Uma das características da obra dele é a sensação de ser algo espontâneo, como se a ideia surgisse pronta”, comenta. Mas não foi bem assim. “Nada do que ele fez foi num rompante, todo o trabalho é uma árdua construção”, enfatiza Aurea.
Isso pode ser comprovado quando se analisa de perto a biblioteca de Leminski: livros de história greco-romana dividem as prateleiras com literatura clássica e moderna, além de volumes sobre Bob Dylan. A busca por erudição levou o poeta a São Paulo: a biblioteca do Mosteiro São Bento inspirou o curitibano a se inscrever por conta própria, aos 13 anos, no tradicional internato paulistano. Um ano e meio depois, o rapazinho foi aconselhado a deixar a instituição. Motivo: os monges encontraram com ele uma revista que exibia fotos sensuais de Brigitte Bardot.

BH O contato definitivo de Leminski com São Paulo começou, na verdade, no Primeiro Encontro da Poesia de Vanguarda, realizado em Belo Horizonte, em 1963. Na capital mineira, o jovem paranaense conheceu os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Iniciou-se ali amizade e troca intelectual que duraram até a morte do poeta.


“Enquanto Leminski era uma referência em Curitiba, os concretistas eram uma referência para ele”, observa Aurea. Em um dos poemas rápidos, cortantes e agudos expostos na Caixa Cultural, Leminski brinca com suas experiências em Sampa: “cinco bares, dez conhaques/ atravesso são paulo/ dormindo dentro de um táxi”.

MÚLTIPLO LEMINSKI
Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, 111, São Paulo.
De terça-feira a domingo, das 9h às 19h. Até 3 de maio.
Entrada franca. Informações: www.multiploleminski.com.br

MAIS SOBRE PENSAR