Hilda te espera em sampa

por 14/03/2015 00:13
Francisco Albuquerque/reprodução
Francisco Albuquerque/reprodução (foto: Francisco Albuquerque/reprodução)
Se você for a São Paulo, não deixe de fazer uma visita a Hilda Hilst. A escritora paulista morreu aos 73 anos, em 2004, mas está bombando entre os jovens. Virou cult, embora se queixasse, na década de 1980, de que ninguém a lia. Entre abril de 2013 e 2014, as vendas de suas obras duplicaram e as redes sociais se tornaram aliadas da velha senhora. O cantor e compositor Zeca Baleiro lançou disco com poemas musicados dela. Maria Bethânia, Angela Ro Ro, Zélia Duncan e Mônica Salmaso, entre outras cantoras, são parceiras desse projeto.

No Itaú Cultural paulistano, a mostra Ocupação Hilda Hilst atrai jovens – muitos conheceram a artista graças ao livro Fico besta quando me entendem (2013), com entrevistas dela. Há cerca de três meses, chegou às lojas Pornô chic, reunião de volumes pornográficos de Hilda.

BASTIDORES A exposição traz Hilda Hilst em primeira pessoa. Os três núcleos do projeto revelam, por meio de 300 itens originais, os bastidores de seu trabalho. "Como a gente teve que pedalar para pegar essa mulher", desabafa Claudiney Ferreira, um dos curadores da Ocupação. Parte do acervo pertence ao Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio, da Unicamp, a quem Hilda vendeu cerca de 5 mil documentos, entre manuscritos, agendas, cadernos, desenhos e fotos. Foi justamente ao chegar a essas pastas que surgiu a ideia de focar no seu processo de escrita.

"Hilda pensava a obra antes, durante e depois", comenta Ferreira. Ela pensava escrevendo. Adorava cadernos e canetas. Mas talvez tenha deixado esses rastros também para a posteridade. Eles são a base da exposição, que conta ainda com o acervo do Instituto Hilda Hilst, presidido por Daniel Fuentes, herdeiro dos direitos autorais da escritora.

CASA DO SOL Entramos no espaço expositivo como se entrássemos na Casa do Sol, construída por Hilda em 1965, em Campinas, e residência dela até a morte. Paredes rosa, luz baixa, mandalas no chão e nas mesas onde estão seus livros. As fotos de suas referências intelectuais (Kafka, Freud, o pai), tais como ela organizou em seu quarto, foram dispostas na entrada, ao lado de outra parede dedicada aos amigos (Lygia Fagundes Telles, Caio Fernando Abreu, Lupe Cotrim), como em sua sala. Fotos originais ou arrancadas de jornais e revistas e emolduradas pela escritora em seu altar.

Em outras paredes, suas listas – uma obsessão – e uma instalação com perguntas feitas por seus personagens: "Como virás, morte minha?", "Será que você não entende que não há resposta?", "E o que vem a ser isso de sonho e verdade?".

Os sonhos de Hilda, aliás, eram anotados e estão numa das vitrines. A exposição é organizada em núcleos, que mostram o processo de criação dos livros A obscena senhora D., O caderno rosa de Lori Lamby e Com meus olhos de cão, entre outros. Por entre esses espaços vemos um vídeo, sua máquina de escrever, fotos, desenhos – inclusive a série feita para Maria Bonomi, quase desconhecida –, referência a seus cachorros.

DOWNLOAD Uma publicação com artigos sobre Hilda Hilst está disponível para download no site da Ocupação, no qual também é possível assistir a uma conversa entre os jornalistas José Castello e Humberto Werneck, que a entrevistaram.

Este é só o começo de uma nova fase para Hilda. Uma biografia está sendo escrita, há traduções em andamento, dois filmes em produção e os novos leitores continuam aparecendo – 60% dos que curtiram a página do instituto no Facebook têm cerca de 30 anos e 20%, menos de 20.


OCUPAÇÃO HILDA HILST
Instituto Itaú Cultural, Avenida Paulista, 149, Bela Vista, São Paulo, (11) 2168-1777. Informações: www.itaucultural.org.br

MAIS SOBRE PENSAR