Poemas com invenção

por 28/02/2015 00:13
PATUÁ/REPRODUÇÃO
None (foto: PATUÁ/REPRODUÇÃO)
Guilherme Sobota



O títere (marionete) das poesias comandadas por Edison Veiga no livro recém-lançado pela Editora Patuá é, em uma palavra, o mundo: objetivo ousado, mas cumprido com graça pelo escritor e jornalista. Titereiro é a segunda obra de poemas de Veiga, com um elogioso prefácio de Miguel Sanches Neto. O primeiro, Enigma (2000), chegou às prateleiras quando o autor tinha 15 anos – desde 2009, ele tem lançado livros entre o jornalismo e a literatura e participado de antologias.

Em Titereiro, seus interesses estão na reflexão sobre o mundo e na invenção de um universo particular por meio do poema, sem deixar de lado, afinal, o amor. “Hoje é quase brega falar de amor na poesia contemporânea. Quase um tabu, por isso fiz essa brincadeira”, diz. A terceira parte do livro, “Vinte poemas de amor”, é como um tributo a Neruda, mas com a qual Veiga evita a mesmice: no “Soneto para você escrever, à caneta”, tudo que há é um espaço em branco, uma sugestão ao leitor.

Na primeira parte do livro, ele investe em poemas com invenção, como, por exemplo, “Imundando”: “Principiei a desconstrução do mundo./ (...) Risquei meridianos, paralelos;/ Arrisquei a morte pois a morte é perpendicular à vida/ E de meridianos estamos todos setentrionais./ Peguei uma agulha bem pontiaguda/ E furei o globo como se bexigasse Terra”, para então, concluir o “lugar” que ao poeta cabe: “Mas foi um estouro tão grande/ Que virei bolha de sabão”.

A segunda parte, “Algum velho álbum”, traz poesias que resvalam em histórias mais lineares, como a desconcertante “Poesia crônica”: “(...) Não fui trabalhar porque me estava triste. Muito triste./ Era como se morresse, ou melhor:/ Transpirasse hipérbatos negativos/ Como se houvesse água em pó/ Para saciar a sede de quem vive na seca (...)”. Ou ainda o poema “Mais triste que ser lua é ser loser minguante”, que em seis versos define o equilíbrio que o livro aparenta buscar: “No meu sonho/ todas as pessoas são tristes./ A diferença/ é que umas constroem pontes/ Outras/ se atiram lá de cima”.

TITEREIRO
. De Edison Veiga
. Editora Patuá
. 120 páginas, R$ 32

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