O parceiro da natureza

por 14/02/2015 00:13
Persiflex/reprodução
Persiflex/reprodução (foto: Persiflex/reprodução)
Mara Gama


As referências a galhos de árvores e raízes que estruturam a estante Floresta ou a mesa Guaimbê, criadas pelo designer Paulo Alves, tornaram-se marcas registradas de sua marcenaria. Mas não a única.

As linhas simples, o apreço pelas madeiras de vários tipos e tonalidades e a exploração das texturas de materiais não puros e nem muito valorizados, como compensados e laminados, são qualidades que também se destacam nos produtos do designer.

E há também uma trilha própria bem diferenciada no uso das formas orgânicas, como a dos bancos Descartes e Pedra, do prato Lasca ou nas estruturas irregulares, como no caso da série Iberê, feita de madeira jacarandá de demolição e laminado colorido.

Essas escolhas conceituais e construtivas e seus resultados estéticos podem ser conhecidos no livro Paulo Alves (Olhares), que aborda os 20 anos de carreira do designer.

CARREIRA Ganhador de prêmios de design com a cadeira Atibaia (2009), criada em parceria com Luis Suzuki, Alves formou-se em arquitetura na Escola de Engenharia da USP de São Carlos. Mudou-se para São Paulo no início dos anos 1990 e trabalhou com a equipe de Lina Bo Bardi (1914-1992) na finalização da reforma do Palácio das Indústrias, em São Paulo, após a morte da arquiteta.

Depois disso, trabalhou no Instituto Bardi, fazendo parte da equipe que inventariou os arquivos de Lina para a produção de um livro e de uma exposição póstumos. Também integrou o time da Marcenaria Baraúna, que nasceu como extensão do escritório Brasil Arquitetura, de Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz.

Influências de Lina e da Baraúna, que sempre se orgulhou de projetar móveis de arquiteto, usando os mesmos raciocínios e os conceitos dos projetos de edificação ou de urbanismo, são visíveis na economia de materiais, na ideia de criar um mobiliário durável e na ausência de ornamentos e disfarces construtivos dos trabalhos de Alves.

O livro traz textos dos designers Marcelo Rosenbaum e Zanini de Zanine e do músico Nando Reis, que mora numa casa desenhada por Paulo Alves. “O móvel é uma ótima forma de vermos nossos sonhos dissolvidos em matéria”, escreve Reis.





PAULO ALVES
• Editora Olhares
• 164 páginas
• R$ 80

MAIS SOBRE PENSAR