Paixão pelos NÚMEROS

Pioneiro da matemática moderna, Edward Frenkel quer popularizar a matéria, o eterno terror dos estudantes. Livro do pesquisador combate clichês, caricaturas e preconceitos

por 07/02/2015 00:13
Berkeley/reprodução
Berkeley/reprodução (foto: Berkeley/reprodução)
Fernanda Ezabella



“Foi como o primeiro beijo.” A comparação pode soar estapafúrdia para quem passou anos sofrendo com os números no colégio. Mas, para o professor e pesquisador russo Edward Frenkel, de 46 anos, foi mesmo esta a sensação que teve aos 17, quando conseguiu solucionar, depois de três meses de trabalho duro, um problema matemático nunca antes resolvido.

Pioneiro da matemática moderna, Frenkel quer popularizar uma das matérias mais cabuladas da escola no livro Amor e matemática – O coração da realidade escondida.

Ele conta como se apaixonou pelo tema, embora morasse na inóspita União Soviética dos anos 1980, que impedia alunos judeus, como ele, de entrar nas melhores escolas. “Quando você faz uma descoberta, é um momento de inspiração, de revelação”, diz o autor, referindo-se à sua primeira epifania numérica. “Foi bem especial porque não tinha certeza de mim mesmo, era ansioso. Para quem nunca chegou perto de tamanha comoção numa aula de aritmética, a culpa é dos professores”, diz.

Segundo Frenkel, aprendemos na escola apenas uma fração do que é a verdadeira matemática. “Em literatura, lemos Homero e também autores contemporâneos. Em geometria, estudamos apenas Euclides, e nada além. É um problema. A única geometria a que os estudantes estão sendo expostos tem uns 2 mil anos de idade.”
 
AVANÇOS

Professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Frenkel lembra que inovações tecnológicas dos últimos 15 anos, como os algoritmos de busca do Google ou de recomendação de livros da Amazon, estão ligadas a avanços matemáticos – poder de conhecimento que não pode ficar nas mãos de poucos.

Em Amor e matemática..., Frenkel mistura capítulos sobre sua história pessoal (como o convite para ser professor visitante em Harvard, aos 21 anos) com explicações de novas teorias como o Programa de Langlands, uma de suas especialidades, que entrelaça diversos campos matemáticos. “Mesmo ao ignorar estas páginas, o leitor vai perceber que as fórmulas não são assustadoras”, pondera.

Em sua busca por humanizar o “terror dos estudantes”, Frenkel combate a caricatura dos matemáticos, geralmente vistos como seres perturbados. “Muitos filmes reforçam o estereótipo de gente com problemas mentais, desconectada do mundo, que fica horas olhando a distância. Às vezes fico assim, é verdade, mas não o tempo todo! Quero aproveitar a vida. Matemática pode ser muito cool”, garante.

O próprio Frenkel é um exemplo de como é possível derrubar preconceitos. Ele tem fama de bonitão entre seus alunos, e apareceu seminu num curta-metragem que escreveu sobre a fórmula secreta do amor, levando o apresentador Stephen Colbert a elogiar seus dotes físicos. “É algo pra brincar. Se meu corpinho trouxer mais gente para a sala de aula, ótimo. Só espero que descubram também a beleza da matemática”, conclui.

AMOR E MATEMÁTICA O CORAÇÃO DA REALIDADE

. De Edward Frenkel
. Editora Casa da Palavra
. 368 páginas, R$ 44,90

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