O escritor e seus dois fantasmas

por 24/01/2015 00:13
Emisoras unidas/reprodução
Emisoras unidas/reprodução (foto: Emisoras unidas/reprodução)
Vera Lúcia de Oliveira



“Um médico vale por muitos homens”, disse Horácio Cratius, poeta latino que viveu no século 1 a.C.. Um professor também. Principalmente se esse professor for Eduardo Halfon, personagem-narrador de O boxeador polaco, livro de Eduardo Halfon.

O mestre em questão lida com a atualíssima questão de ensinar a quem não quer aprender. É professor universitário de jovens que preferem qualquer coisa a ler livros. É, portanto, um desafio para o aparentemente cético mestre que, no fundo, ainda crê em algum tipo de milagre. Ou seja, de conquistar algum leitor. Leem Poe, Maupassant, Joyce, aos trancos e barrancos, mas nem tudo está perdido... Há um certo Juan Kalel que responde ao chamado da grande arte: poeta, leitor que se revela brilhante, recarrega as baterias do professor descrente... O resto é surpresa.

Esse é apenas o primeiro conto/relato(?) dos seis magníficos com que o autor nos brinda. Já o que dá título ao livro fala-nos do avô com uma tatuagem no braço. E marcas mais que profundas na sua alma polaca. É um momento de grande beleza desse livro – um presente da nossa moderna literatura latino-americana, da Guatemala, pequeno país que se torna grande por meio do seu mestre.

O boxeador polaco pede um conhaque, pois, como nos versos do Drummond, esses contos “botam a gente comovido como o diabo”.

. Vera Lúcia de Oliveira é professora de literatura


O BOXEADOR  POLACO

. De Eduardo Halfon
. Rocco
. 128 páginas, R$ 24,50

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