O gentleman de Poços de Caldas

Antonio Candido destaca o %u201Cimpecável sentimento do estilo%u201D do mineiro Jurandir Ferreira no prefácio de Um ladrão de guarda-chuvas, reeditado pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil

por 06/09/2014 00:13
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Severino Francisco



Em 1996, o crítico Antonio Candido escreveu uma preciosa apresentação para o romance Os ratos, a pedido de José Salles Neto, para uma edição especial da Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB), com ilustrações de Ênio Squeff. Candido havia participado do júri do Grande Prêmio de Romance Machado de Assis, instituído pela Companhia Editora Nacional, que concedeu quatro premiações a Música ao longe, de Érico Verissimo; Marafa, de Marques Rebelo; Totonho Pacheco, de João Alphonsus Guimarães; e Os ratos, de Dyonélio Machado.

Recentemente, Salles ligou novamente para Antonio Candido com o objetivo de pedir a ele um texto de apresentação para Um ladrão de guarda-chuvas, do mineiro Jurandir Ferreira, um dos grandes ficcionistas e cronistas modernos, mas de reconhecimento restrito. O livro ganhou reedição da CBB, que funciona em Brasília.

Candido, de 96 anos, declinou do convite de maneira sumária: “Não, meu filho, desta vez não posso, não escrevo mais e, além disso, estou doente”. Salles é um mineiro muito educado, mas tenaz e matreiro: “Mas o senhor me concede ao menos dizer o nome do autor?”. O crítico replicou: “Pode, mas não vai adiantar nada”.

Salles aproveitou a brecha e anunciou: Jurandir Ferreira. Candido vacilou: “Mas agora você me colocou em uma situação difícil. É um autor tão importante e tão esquecido que, se você me der algum tempo, sou obrigado a escrever sobre ele”.

E assim Antonio Candido escreveu “Um escritor notável” para apresentar Um ladrão de guarda-chuvas, de Jurandir Ferreira.

PRÊMIO


Lançado em 1995, depois de dar a Jurandir Ferreira, na época com 89 anos, o Prêmio Guimarães Rosa na categoria romance, Um ladrão... foi escrito na década de 1950. Ele conta a história do relacionamento entre um intelectual e um homem simples do interior.

Não é mera coincidência o “clima provinciano” do livro – Ferreira ganhou a vida como farmacêutico em sua terra, Poços de Caldas, no Sul de Minas. Jovem, ele morou em Porto Alegre e em São Paulo, atuou também como jornalista, contista e cronista. É autor dos romances O céu entre montanhas (1948), Telêmaco (1954) e do livro de poesia Fábulas (1949).

A partir de 1953, Ferreira escreveu sobre literatura no Diário de Poços de Caldas. Em 1958, na cidade sul-mineira, fundou o jornal Fronteira. Na década de 1990, Um ladrão... chamou a atenção do Brasil para a importância de seu autor. Em 1991, ele voltou a surpreender com o volume de crônicas Da quieta substância dos dias (Instituto Moreira Salles).

Admirador de Anatole France, Machado de Assis, Eça de Queirós e Monteiro Lobato, Jurandir Ferreira (1905-1997) revelou a Daniel Piza, em reportagem publicada na Folha de S. Paulo, que devia sua “perícia sintática” não apenas a esses ídolos, mas também a seus professores de português. Um deles era Eugênio Rubião, pai do escritor Murilo Rubião, outro mestre das nossas letras.

UM LADRÃO DE GUARDA-CHUVAS


De Jurandir Ferreira
Confraria dos Bibliófilos
Informações: conbiblibr@yahoo.com.br

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