Recentemente, Salles ligou novamente para Antonio Candido com o objetivo de pedir a ele um texto de apresentação para Um ladrão de guarda-chuvas, do mineiro Jurandir Ferreira, um dos grandes ficcionistas e cronistas modernos, mas de reconhecimento restrito. O livro ganhou reedição da CBB, que funciona em Brasília.
Candido, de 96 anos, declinou do convite de maneira sumária: “Não, meu filho, desta vez não posso, não escrevo mais e, além disso, estou doente”. Salles é um mineiro muito educado, mas tenaz e matreiro: “Mas o senhor me concede ao menos dizer o nome do autor?”. O crítico replicou: “Pode, mas não vai adiantar nada”.
Salles aproveitou a brecha e anunciou: Jurandir Ferreira. Candido vacilou: “Mas agora você me colocou em uma situação difícil. É um autor tão importante e tão esquecido que, se você me der algum tempo, sou obrigado a escrever sobre ele”.
E assim Antonio Candido escreveu “Um escritor notável” para apresentar Um ladrão de guarda-chuvas, de Jurandir Ferreira.
PRÊMIO
Lançado em 1995, depois de dar a Jurandir Ferreira, na época com 89 anos, o Prêmio Guimarães Rosa na categoria romance, Um ladrão... foi escrito na década de 1950. Ele conta a história do relacionamento entre um intelectual e um homem simples do interior.
Não é mera coincidência o “clima provinciano” do livro – Ferreira ganhou a vida como farmacêutico em sua terra, Poços de Caldas, no Sul de Minas. Jovem, ele morou em Porto Alegre e em São Paulo, atuou também como jornalista, contista e cronista. É autor dos romances O céu entre montanhas (1948), Telêmaco (1954) e do livro de poesia Fábulas (1949).
A partir de 1953, Ferreira escreveu sobre literatura no Diário de Poços de Caldas. Em 1958, na cidade sul-mineira, fundou o jornal Fronteira. Na década de 1990, Um ladrão... chamou a atenção do Brasil para a importância de seu autor. Em 1991, ele voltou a surpreender com o volume de crônicas Da quieta substância dos dias (Instituto Moreira Salles).
Admirador de Anatole France, Machado de Assis, Eça de Queirós e Monteiro Lobato, Jurandir Ferreira (1905-1997) revelou a Daniel Piza, em reportagem publicada na Folha de S. Paulo, que devia sua “perícia sintática” não apenas a esses ídolos, mas também a seus professores de português. Um deles era Eugênio Rubião, pai do escritor Murilo Rubião, outro mestre das nossas letras.
UM LADRÃO DE GUARDA-CHUVAS
De Jurandir Ferreira
Confraria dos Bibliófilos
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