O sussurro das vísceras

Carlos Roberto Pellegrino lança hoje em Belo Horizonte o livro de poemas O sentido das horas

por 30/08/2014 00:13
Luiz Alberto Pellegrino/Divulgação
Luiz Alberto Pellegrino/Divulgação (foto: Luiz Alberto Pellegrino/Divulgação)
Jefferson da Fonseca Coutinho



Maduros são os sopros do tempo feito poesia. O sentido das horas, de Carlos Roberto Pellegrino, é um conjugado bem particular e abismal da vida. Inevitável ser pego pelas palavras amarradas em versos de muitas métricas do poeta em vísceras. O autor volta à cena depois de La hora final & otras poesías, de 1989. São 25 anos de vivências guardadas, pensadas e repensadas, trazidas à pena.

Carlos Roberto não se esconde na criação. Revela-se inteiro – na soma, meio menino, meio velho. Letrado, viajante, conhecedor de tantas paisagens do mundo, o poeta Pellegrino, observador de caminhos, descreve o que ele chama de “A hora marcada”: “Em que somos semelhantes/ no que resta dos amores consumados./ No instante preciso, a hora exata,/ o tempo ensombra e nos concebe,/ suave, os sonhos da alma”.

Em O sentido das horas, o poeta Pellegrino se mostra ainda sujeito de amores, pai de preciosidades e avô apaixonado em poema dedicado à pequena Catarina: “Quando às vezes me entristeço/ às vezes que vou chorar/ são tantos os meus desejos/ que não sei qual preferir:/ se às vezes sentir/ às vezes sentir sem chorar/ às vezes que já chorei/ às vezes que vou chorar”. Quem o conhece, ainda que de letras, embevece-se aqui da construção de sentido.

Nascido em Belo Horizonte em 1945, Carlos Roberto Pellegrino, jornalista e advogado, fez carreira de sucesso em São Paulo e em Brasília. Em 1979, ele foi funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU). Ex-professor da Universidade de Brasília, o poeta foi também assessor no Supremo Tribunal Federal (STF).

Sobre o autor, o escritor Humberto Werneck escreveu: “Nele, havia também, em surdina, um poeta. A certa altura, houve quem julgasse ver seu dedo, seus dez dedos num marroquino de língua espanhola de quem nunca se ouvira falar, Jorge Ortijas, supostamente morto de tifo no Peru, aos 25 anos, cujos versos Pellegrino, no que seria um rasgo borgeano, organizou e pôs em livro, La hora final & otras poesías, discretamente publicado, a suas expensas, em 1989”.

Ocupado com outras urgências por tempos, o advogado, professor e pai de família Pellegrino adormeceu a poesia – agora, de volta às profundidades da alma. O sentido das horas tem lançamento hoje, em Belo Horizonte.


O espinho das flores

Pensa não existir em mim
os espinhos das flores,
trago o recado dos ventos
nas mãos cheias de espinhos.
Os espinhos são flores,
as flores dos seus espinhos

O Sentido das Horas


. Carlos Roberto Pellegrino
. Editora Casa do Tempo, 190 páginas
. Lançamento hoje, às 11h, na Quixote Livraria e Café, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi

Livros do autor

Porta (1966), Edições Palavra
Corpo inteiro (1968), não editado
Do lado de lá (1970), Editora Oficina das Letras
La hora final & otras poesías (1989) Edições Dubolso

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