Durante um período de crise de identidade em nossa música popular, principalmente nos anos 1970, com o desaparecimento do choro dos circuitos de rádio e televisão, o gênero foi sustentado pelo amor e dedicação daqueles que o praticavam em encontros de fins de semana e saraus nos subúrbios de várias cidades brasileiras. Mas a sua linguagem, aliada à originalidade, já estava consumada. Em 1978, Raimundo Fagner lança Quem viver chorará, disco que traz Dino 7 Cordas esbanjando estilo e bom gosto.
Por meio do estilo de uma escola madura, chamada na ocasião de música de resistência, não deixou que nossa autêntica música sucumbisse aos exageros impostos pela invasão estrangeira e mesmo nacional da chamada “música de mercado”. A partir daí, com breves “cochilos históricos”, o choro se recompôs e foi, aos poucos, se alastrando pelo país, angariando uma legião de adeptos, em sua maioria jovens. Já se ouvia falar do choro em Brasília e em São Paulo, cidade que nunca deixou de apresentar grandes mestres do gênero, e invadiu Minas Gerais, reforçando uma escola já existente nessas terras, representada por excelentes músicos fiéis ao gênero.
Desde o famoso Beco do Choro, bar existente em Belo Horizonte na década de 1980, que reunia os principais expoentes do choro daquela época, até o Pedacinho do Céu e o tradicional Bar do Bolão, no Padre Eustáquio, o choro não parou mais. Consolidou-se em Minas Gerais e deu suporte para novas gerações de grandes violonistas. Sete cordas passou a ser sobrenome de todos aqueles que optaram por esse instrumento e que, orgulhosamente, se exprimem por meio de suas “baixarias”.
Pouco a pouco, sob influência da música mineira, com sua linguagem harmônica inovadora, jovens instrumentistas começaram a cultivar o fraseado dos graves em composições arrojadas, com sabor moderno e um virtuosismo sempre crescente.
Hoje, convivemos com as fontes inspiradoras, atuantes ou não, que mantêm viva a chama e inquietude do instrumento em Minas Gerais: Wagner 7 Cordas, líder do grupo Clube do Choro; Chiquinho 7 Cordas, in memorian, ex-integrante do regional de Waldir Silva; Paulinho 7 Cordas e Trisqueio, estilistas valorosos; além dos novos representantes que abrem possibilidades para uma abordagem empírica, associada à experimentação acadêmica, criando, assim, novas perspectivas para o violão de sete cordas.
Seguem fazendo escola grandes violonistas como Sílvio Carlos, que lidera há anos o importante grupo Flor de Abacate; Geraldo Magela, com brilhante atuação junto ao grupo Sarau Brasileiro; e os jovens e talentosos instrumentistas com trabalhos solos: Thiago Delegado, Humberto Junqueira, Lucas Telles, entre outros. Paralelamente, o sofisticado Beto Lopes, aliando o conhecimento da música universal, adquirido ao longo dos anos por meio do violão tradicional e da guitarra, contribui para uma nova forma de atuação do eterno sete cordas na música popular contemporânea.
Dino 7 Cordas deu origem a tudo isso e muito mais. Deverá sempre ser reverenciado como o criador dessa fantástica escola. Sua atuação vem comprovar que o talento, aliado à dedicação e persistência, será sempre o responsável pela perpetuação de nossa música e de nossa linguagem artística e cultural.
Heitor Villa-Lobos, também adepto do choro, escreveu: “Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta”. Dino, com sua incondicional dedicação ao violão, seu carinho pela vida de músico e com sua seriedade como professor de inúmeros violonistas, escreveu suas ideias musicais em discos de grandes nomes da música brasileira, também sem esperar resposta.
Todas as suas mensagens foram recebidas e, hoje, olhando para o passado e constatando sua importância, percebemos que as respostas nunca deixarão de chegar. Sempre haverá um exímio sete cordas em algum lugar do mundo, respondendo com belos e sedutores, talvez eternos, fraseados.
. Geraldo Vianna é violonista, compositor e arranjador.