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Sonho feito de harmonia

Lô Borges tem seu trabalho registrado em partituras

Autor de canções que divulgaram a sonoridade mineira pelo país e o mundo ganha songbook

Mario Alex Rosa
- Foto: Bárbara Dutra/Divulgação Finalmente, os admiradores, apreciadores e estudiosos da ótima música popular brasileira podem ler, tocar e ouvir mais de 50 músicas desse que é sem dúvida um dos artistas mais importantes da canção brasileira de 1970 para cá: Lô Borges. O cuidado com que os organizadores fizeram que esse songbook fosse o mais fiel a cada música estudada, seja na harmonia, na melodia ou nos acordes, só vem confirmar o rigor musical das canções de Lô Borges.
É bonito ver a letra com todas aquelas estruturas técnicas – ainda que muitas pessoas não possam entendê-las, não impede de curti-las ou mesmo reforçar o carinho que cada um tem pelas músicas desse livro. Olhando página a página, o leitor/ouvinte pode se perguntar como hoje, com todo esse aparato técnico, continuamos cantando ou mesmo tocando, ainda que às vezes de forma mais simplificada, cada uma dessas músicas.

De fato, é curioso olhar as partituras e saber que essas canções cantadas por tanta gente, inclusive os desafinados, como este que aqui escreve, têm toda essa complexidade. Numa equação simples e bem resumida, poderíamos dizer que nesse universo complexo de notas musicais, o simples não perde a beleza. Talvez seja por isso que muitas dessas canções continuem em nossas mentes e corações.

Mas se por um lado a parte técnica ficará para os músicos, por outro o leitor poderá ler um breve texto introdutório, mas muito bem sintetizado, sobre a trajetória do compositor Lô Borges. Mesmo que em alguns momentos termos técnicos da música reapareçam, o leitor encontrará fluidez, pois o texto é extremamente harmônico sobre técnica musical e contexto político, social e cultural, além de pontuar cada disco do “alquimista da harmonia”. Enfim, para um songbook, o resultado não poderia ter sido melhor.

Assim, há duas maneiras de confirmar o valor estético do livro e, claro, de cada disco: é ouvi-los comparando algumas canções comentadas por Pablo Castro, autor do texto de introdução, ou mesmo deixar o disco tocar e sentir a particularidade de cada um.

Seja o conhecido “disco do tênis” (1972), com suas canções oníricas, ou o mais conhecido Via Láctea (1979), cujas músicas são referências até hoje para quem quer conhecer a singularidade e a capacidade harmônicas e melódicas que esse músico e outros foram e são capazes de construir. Há outros discos, como Sonho real (1984) e Harmonia (2009), cujo título por si só diz o que ele e todos os outros álbuns representam: harmonia.

Com tudo isso, e depois da leitura, sugiro colocar os discos de Lô Borges e pensar que o sonho (da qualidade musical brasileira), felizmente, não acabou.

. Mário Alex Rosa é poeta.

Lô Borges Songbook
. Produzido por Barral Lima, com transcrições de Carlos Laudares
. Editora Neutra Editora