Vizinho do Chico

O jornalista Daniel Cariello lança livro de crônicas no qual retrata com leveza e bom humor as agruras de um brasileiro em Paris

por 01/03/2014 00:13
Gustavo Mozzer/Divulgação
(foto: Gustavo Mozzer/Divulgação)
Carlos Herculano Lopes




Os cinco anos que o jornalista brasiliense Daniel Cariello viveu em Paris, de 2007 a 2012, onde se tornou mestre na profissão pela Universidade de Paris III e também editou a revista bilíngue Brazuca, sobre cultura brasileira, serviram ainda para ele dar vazão à veia de cronista, cultivada desde a adolescência na capital federal. Às sextas-feiras, durante o período em que viveu na França, Daniel publicava uma crônica no site www.cheriaparis.com.br.

Das quase 300 histórias escritas, a maioria delas na primeira pessoa, 48 foram aproveitadas no livro Chéri à Paris – Um brasileiro na terra do fromage, publicado no fim do ano passado pelo selo Longe, que foi criado por ele e alguns amigos dos tempos da faculdade para divulgar os próprios trabalhos. Além da coletânea de Cariello, saíram também pela editora Anti-heróis & aspirinas, de Yury Hermuche, Depois das monções, relatos de uma viagem à Índia, de Gabriela Goulart Mora, e o infantil A rua de todo mundo, de Carolina Nogueira, também autora das ilustrações.

De acordo com Daniel Cariello, que já foi guitarrista e tecladista de uma banda de rock, em Brasília, até voltar-se para a literatura, o objetivo ao criar o selo foi essencialmente promover a autopublicação. “Achamos que pode ser uma solução bastante viável para encontrar um caminho diferente no mercado editorial e ter um controle melhor sobre nossos produtos. Já estamos fazendo parcerias com grande lojas virtuais, o que tem ajudado muito na divulgação dos livros”, diz o escritor.

Ainda sobre a editora, ele explica que uma das propostas é lançar obras cujas histórias girem sempre em torno de um mesmo tema proposto, ou seja: distâncias, viagens, estranhamentos, “e a sensação de não pertencer a lugar nenhum, mas mesmo assim querer desbravá-lo”.

No caso dele, a proposta foi seguida ao pé da letra em Chéri à Paris. Em um dos textos, como na crônica “68 + 1”, ele lembra o dia em que, na capital francesa, entrou de gaiato numa passeata gay, até receber uma descarada cantada de um dos participantes, que lhe ofereceu uma flor. Em outra história, “Eu x Zidane”, narra o episódio vivido em uma festa, quando foi esnobado por um francês que vestia uma camisa com a foto do craque Zidane, carrasco do Brasil. Num rasgo de patriotismo e com algumas cervejas na cabeça, perdeu as estribeiras e deu um sopapo no dito-cujo.

Em crônica hilária, o autor cria um ótimo diálogo entre os então presidentes Lula e Sarkozy, em Brasília, sobre uma possível compra dos caças Rafale. E, para deixar todo mundo com a pulga atrás da orelha, deixa escapar, como quem não quer nada, que era vizinho de Chico Buarque em Paris. Mas, como todas as histórias boas de contar na mesa de bar, “é claro que não é verdadeira”.

Sobre aos rumos de sua carreira, Daniel está consciente. “Quero trilhar minha trajetória de escritor como cronista, escrevendo para jornais e revistas, como fazem Luis Fernando Verissimo, Antonio Prata e alguns outros”, diz. Como editor, também não perde tempo e anuncia: novos livros do selo Longe já estão a caminho.

Chéri à Paris – um brasileiro na terra do fromage

 . Edições Longe, 158 páginas. Informações: daniel@danielcariello.com.br

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