Ler os textos de Luis Fernando Verissimo, principalmente quando se está triste, naqueles momentos de baixo-astral, achando que a vida não anda valendo a pena, sempre é um alento para recuperar a alegria e a vontade de seguir em frente. Nesse caso, a boa pedida é saborear aos poucos, degustando história por história, como as 50 crônicas (32 inéditas em livro) de Amor Verissimo, livro que acaba de sair pela Editora Objetiva.
Verissimo trabalha sempre com a vida real, com todos os seus desdobramentos e possibilidades. Às vezes, nem sempre amenos, com as traições, intimidades devassadas, perda do parceiro, relações hétero e homossexuais, resolvidas ou não, tudo com o bom humor peculiar. Seus personagens são gente como a gente, vivendo momentos que seriam trágicos se não fossem cômicos. E como o tema é amor, tem de tudo, amor platônico, carnal, correspondido, fracassado. Como na vida.
Em “Vingança”, um grupo de amigos, solidários com o colega que havia levado um chute na bunda dado pela mulher amada, resolve bolar um plano aparentemente infalível. Escolhem outro amigo para seduzi-la para, em seguida, também descartá-la sem piedade, como a malvada Maura tinha feito com o pobre do Inácio.
A princípio, Boanova, eleito para desempenhar a missão, tipo bonitão e galã, “um pão, como se dizia”, mas “maricas” não declarado (na época em que se passou a história, como lembrou Verissimo, não se usava a palavra gay), não queria aceitar o desafio. Alguma coisa dentro dele andava dizendo que poderia não ser boa ideia. Mas depois, por insistência dos colegas, resolveu ir em frente e vingar a afronta sofrida por Inácio. Só que, por essas artes do destino, também ele acabou se encantando com a Maura. E acreditem se quiser: da mesma forma que tinha feito com o outro, ela chutou Boanova sem piedade, “fazendo com ele o que não se faz com um cachorro”, segundo consta.
Em outra história, “Trauma”, o pequeno Artur, de 12 anos, filho de pais separados, que morava com a mãe, mas passava os fins de semana com o pai, começou a ver sua vida virar um inferno quando os dois, alternadamente, queriam saber do filho o que o outro andava aprontando.
Até que o menino bolou um plano e começou a inventar situações mirabolantes: que o pai levava duas loiras para casa, hospedava um travesti e outras coisas cabeludas. Ou então, para atender a curiosidade do pai, que a mãe tinha um namorado, dando até o nome do dito-cujo, José Augusto, que dormia com ela. Quando resolveram colocar o garoto contra a parede, ele acabou confessando: era tudo mentira.
Nascido em Porto Alegre, em 1936, Luis Fernando Verissimo é um dos escritores mais celebrados do país. Vencedor de prêmios importantes, criou tipos inesquecíveis, que ficaram no imaginário do brasileiro, como a velhinha de Taubaté e o analista de Bagé, entre outros. É autor de mais de 50 títulos, entre crônicas, contos e romances.
Amor Verissimo
• De Luis Fernando Verissimo
• Editora Objetiva
• 194 páginas, R$ 29,90