A vida como ela é

por 01/02/2014 00:13
Sylvio Sirangelo/Divulgação
Sylvio Sirangelo/Divulgação (foto: Sylvio Sirangelo/Divulgação)
Carlos Herculano Lopes


Ler os textos de Luis Fernando Verissimo, principalmente quando se está triste, naqueles momentos de baixo-astral, achando que a vida não anda valendo a pena, sempre é um alento para recuperar a alegria e a vontade de seguir em frente. Nesse caso, a boa pedida é saborear aos poucos, degustando história por história, como as 50 crônicas (32 inéditas em livro) de Amor Verissimo, livro que acaba de sair pela Editora Objetiva.

Os textos reunidos na coletânea serviram como ponto de partida para a série homônima, a princípio com 13 capítulos, que está sendo exibida pelo GNT, canal pago, tendo no elenco Gabriela Duarte, Letícia Colin, Marcelo Faria, Paulo Tiefenthaler e Pedro Monteiro.


Verissimo trabalha sempre com a vida real, com todos os seus desdobramentos e possibilidades. Às vezes, nem sempre amenos, com as traições, intimidades devassadas, perda do parceiro, relações hétero e homossexuais, resolvidas ou não, tudo com o bom humor peculiar. Seus personagens são gente como a gente, vivendo momentos que seriam trágicos se não fossem cômicos. E como o tema é amor, tem de tudo, amor platônico, carnal, correspondido, fracassado. Como na vida.

Em “Vingança”, um grupo de amigos, solidários com o colega que havia levado um chute na bunda dado pela mulher amada, resolve bolar um plano aparentemente infalível. Escolhem outro amigo para seduzi-la para, em seguida, também descartá-la sem piedade, como a malvada Maura tinha feito com o pobre do Inácio.

A princípio, Boanova, eleito para desempenhar a missão, tipo bonitão e galã, “um pão, como se dizia”, mas “maricas” não declarado (na época em que se passou a história, como lembrou Verissimo, não se usava a palavra gay), não queria aceitar o desafio. Alguma coisa dentro dele andava dizendo que poderia não ser boa ideia. Mas depois, por insistência dos colegas, resolveu ir em frente e vingar a afronta sofrida por Inácio. Só que, por essas artes do destino, também ele acabou se encantando com a Maura. E acreditem se quiser: da mesma forma que tinha feito com o outro, ela chutou Boanova sem piedade, “fazendo com ele o que não se faz com um cachorro”, segundo consta.

Em outra história, “Trauma”, o pequeno Artur, de 12 anos, filho de pais separados, que morava com a mãe, mas passava os fins de semana com o pai, começou a ver sua vida virar um inferno quando os dois, alternadamente, queriam saber do filho o que o outro andava aprontando.

Até que o menino bolou um plano e começou a inventar situações mirabolantes: que o pai levava duas loiras para casa, hospedava um travesti e outras coisas cabeludas. Ou então, para atender a curiosidade do pai, que a mãe tinha um namorado, dando até o nome do dito-cujo, José Augusto, que dormia com ela. Quando resolveram colocar o garoto contra a parede, ele acabou confessando: era tudo mentira.

Nascido em Porto Alegre, em 1936, Luis Fernando Verissimo é um dos escritores mais celebrados do país. Vencedor de prêmios importantes, criou tipos inesquecíveis, que ficaram no imaginário do brasileiro, como a velhinha de Taubaté e o analista de Bagé, entre outros. É autor de mais de 50 títulos, entre crônicas, contos e romances.

Amor Verissimo

• De Luis Fernando Verissimo
• Editora Objetiva
• 194 páginas, R$ 29,90

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