Universo literário de Scliar

por 25/01/2014 00:13
Neco Varella/AE-16/09/10
Neco Varella/AE-16/09/10 (foto: Neco Varella/AE-16/09/10)
Carlos Herculano Lopes

 

Um dos mais celebrados escritores brasileiros do século 20, autor de extensa obra com mais de 80 títulos de gêneros variados – romances, contos, crônicas, literatura infantojuvenil, ensaios, teatro –, o gaúcho Moacyr Scliar morreu em 2011, em Porto Alegre, cidade onde nasceu em 1937. Estava com 73 anos.

De origem judaica, médico por formação, escritor por vocação e gosto, seu último livro, publicado pela Companhia das Letras, que está relançando parte da sua obra, foi o volume de crônicas médicas Território da ilusão. Durante anos, em Porto Alegre, onde sempre viveu, Scliar trabalhou como médico sanitarista, profissão que, sem problemas, dividiu com a literatura. Recentemente, sua família, no intuito de preservar sua obra – traduzida para diversas línguas e levada para o cinema, o teatro, além de ter sido motivo de teses e dissertações país afora –, lançou um website: www.moacyrscliar.com.

O vasto conteúdo, que engloba os 50 anos de carreira literária, iniciada em 1968, quando ele lançou, em Porto Alegre, o volume de contos O carnaval dos animais, é composto por biografia completa, informações sobre sua produção literária e carreira médica. Traz ainda galeria de fotos, vídeos, capas antigas dos livros, entrevistas concedidas ao longo dos anos, fortuna crítica, booktrailers e outras informações sobre Scliar, que está entre os escritores brasileiros mais lidos no exterior. Bem-humorado, sempre com uma história para contar, ele era um dos autores que mais viajavam pelo Brasil, dando palestras, participando de bienais de livros, conversando sobre literatura.

De acordo com seu cunhado, o jornalista Gabriel Oliven, editor do site com Judith Scliar, viúva do escritor, o objetivo do site, além de manter viva a obra de Scliar, foi legá-la às novas gerações. “Por meio da rede, muitos jovens que o conhecem apenas pelos livros poderão saber mais a seu respeito. Além do mais, em um país de memória curta como o Brasil, ajudar a preservar nossa cultura, e no caso obra tão significativo como a de Scliar, a meu ver é muito importante”, diz Oliven.

Scliar era escritor compulsivo, que produzia com rapidez extraordinária, mesmo quando estava viajando. Aproveitava a solidão dos aeroportos e quartos de hotel para adiantar a redação de histórias e cumprir no prazo as muitas encomendas editoriais. Por isso, o escritor não deixou muita coisa inédita, apenas textos inacabados e ideias não concretizadas para romances. “Nada pronto para publicação ou que ele gostaria que fosse lançado”, garante.

Gabriel Oliven, que vive em Porto Alegre, informa ainda que uma das preocupações da família, no momento, é também reunir em no máximo quatro editoras toda a obra de Scliar. “Ele tem trabalhos lançados por mais de 20 editoras, de algumas nem sabíamos, e isso torna o controle mais difícil”, diz. Entre os livros mais conhecidos do escritor gaúcho estão os romances O exército de um homem só, O centauro no jardim, A majestade do Xingu e A mulher que escreveu a Bíblia.

MAIS SOBRE PENSAR