Sem medo da brutalidade

por 28/12/2013 00:13
Marcelo Corrêa/Divulgação
Marcelo Corrêa/Divulgação (foto: Marcelo Corrêa/Divulgação)
Carlos Herculano Lopes

De uma nova geração de escritoras que têm se destacado no universo ficcional brasileiro, o nome de Ana Paula Maia está na ponta. Nascida em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em 1977, quando adolescente a moça teve uma banda de rock, depois estudou computação, namorou com o cinema e, para a nossa sorte, começou a escrever aos 21 anos. Antes nunca tinha dado bola para a literatura. “Comecei tarde, em relação à maioria dos escritores, foi uma coisa instintiva, mas depois não parei mais”, diz.

Autora da trilogia A saga dos brutos, com a qual começou a ficar conhecida no país com os romances Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos, O trabalho sujo dos outros e Carvão mineral, Ana Paula Maia, que vive no Rio, acaba de lançar o romance De gados e homens. É o seu melhor livro, maduro e desconcertante, escrito por uma mulher que ainda nem chegou aos 40 anos, mas já marcou seu terreno.

Num estilo seco, que oscila num espaço indefinido entre o urbano e o rural – embora sua vivência nesse meio tenha sido quase nenhuma – no romance ela se adentra, como se conhecesse a fundo o assunto, no universo violento de um matadouro, no qual um punhado de homens, brutos pelas circunstâncias , fazem o “serviço sujo”, para que a carne possa chegar às nossas mesas. Para escrever o livro, conta Ana Paula, ela precisou de aprender o processo de abate de bois e se ambientar com o espaço de um matadouro.

Autora de O habitante das falhas subterrâneas, a romancista revela ainda que, em se tratando do seu do seu processo criativo, ele pode começar por dois pontos: personagem ou lugar. No caso De gados e homens, o início da história se deu a partir do ambiente. “Queria escrever sobre o tema já faz alguns anos. Mas fui ruminando as ideias aos poucos, anotando. Quando então fiquei conhecendo, depois de pesquisar muito, a maneira como funciona um matadouro, criei meu próprio espaço ficcional, neste caso o Matadouro Touro Milo, e passei a visitá-lo diariamente no meu universo pessoal”, conta.

Para acompanhar Ana Paula Maia em sua nova aventura literária, na qual ela criou um universo próprio e único – não existe nada parecido na literatura brasileira contemporânea, na qual os autores têm se voltado muito para o próprio umbigo – é necessário estar preparado, inclusive para mudar conceitos. Ou então se perguntar: Qual é o limite, se é que ele existe, que separa os homens dos animais?


De gados e homens

. De Ana Paula Maia
. Editora Record, 128 páginas, R$ 30

MAIS SOBRE PENSAR