Gregório Duvivier lança 'Ligue os pontos - poemas de amor e big bang', segundo livro de poemas

Ator e escritor faz sucesso na internet, nos palcos e na TV

por André Di Bernardi Batista Mendes 30/11/2013 00:13
Renato Parada/Divulgação
(foto: Renato Parada/Divulgação)
Gregório Duvivier é um artista múltiplo, talentoso, que vai do humor ao drama, do teatro à literatura com a desenvoltura de um acrobata. O ator vive, talvez, o melhor momento de sua carreira, é um dos criadores e integrantes, na internet, do excelente canal de humor Porta dos Fundos, participou de filmes no cinema, séries de televisão, peças de teatro, já ganhou alguns prêmios, é roteirista, assina uma coluna semanal no jornal Folha de S. Paulo e, depois do seu primeiro livro, A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (2008, Editora 7 Letras), acaba de lançar, pela Companhia das Letras, Ligue os pontos – poemas de amor e big bang.

Gregório, que recebeu elogios de nomes de peso como Millôr Fernandes, Paulo Henriques Britto e Ferreira Gullar, mostra um estilo que preza a simplicidade, com o foco na importância dos momentos insignificantes do cotidiano. O jovem capta flashes pungentes e irônicos da adolescência, aborda o mistério da criação, o mistério das palavras e suas relações inusitadas, canta as dores e a sua experiência do amor e fala sobre o transitório, tendo o Rio de Janeiro como principal fonte de inspiração.

Contudo, a literatura é feita de armadilhas. Em se livro, Gregório tenta ligar uma série de pontos distintos, mas às vezes escorrega e deixa a desejar apresentando poemas fáceis, imaturos, vazios de força e sentido. Em muitos momentos o poeta insiste num fluxo verbal pueril. Alguns textos apenas esbarram e não chegam a ser poesia: “São azuis, eu disse, e você disse que/ são verdes, mas são azuis, eu disse,/ eu estou vendo e você não, eu disse/ mas são verdes, você disse porque/ sempre foram, e são meus, você disse/ mas a verdade, eu disse, é que são verdes...”.

Outro detalhe: amor não é uma coisa bela. Gregório desliza, em alguns casos, quando descreve paixões e mágoas. Porque o amor é uma árvore incompleta, é um rio perigoso, é um tormento que se abre num voo com asas de céu e amplidão. Alguns poemas de Gregório abrem-se para si mesmos, alardeando desejos que são apenas desejos. Falar de amor é atiçar um bicho sempre perigoso. Amor não é água estagnada. Amor é sinônimo de claustro. Sabem os monges e as freiras, sabem os poetas e sobem os santos. As linhas do amor, a linha de alguns poemas amorosos do livro não são tortuosas, pois faltam paradoxos e abismos.

Pieguice e porrada O amor não é a coisa mais bonita do mundo: “Ao se deparar com a coisa mais bonita do mundo:// 1 – Certifique-se de que ela existe,/ 2 – Observe-a minuciosamente. Pode ser que ela evapore./ 3 – Ouça a coisa mais bonita do mundo./ 4 – Deite a coisa mais bonita do mundo sobre a superfície mais confortável do mundo,/ 5 – Ame-a imensamente”.

O carretel de Gregório é feito de arames e linho, é feito de trapos, mas também é feito da seda mais pura. Gregório vai da porrada, no bom sentido, ao piegas. Gregório transita entre a excelência: “A baía de Guanabara é uma sopa de óleo/ diesel detritos ferramentas sal de lágrimas/ e a saudade dos que já partiram – quando/ atingimos seu vórtice devemos jogar cinzas/ anéis e outros restos mortais de uma pessoa/ a ser engolida pelos deuses subaquáticos/ pois para isso cariocas fomos feitos – para/ salgar esse imenso caldo que nos banha”; e o banal: “Ô abre-alas meu amor que eu quero passar/ com a minha dor no sol a pino ao deus-dará/ dará meu bem dará a vida que eu quiser/ pro que der e vier você virá meu bem virá/ que ano que vem eu volto aqui e canto e danço/ sem parar meu bem parar eu só paro se morrer/ meu bem morrer morrer eu só morro amanhã”.

Gregório acerta ao privilegiar o coloquial, as palavras do cotidiano. Ele acerta quando presta atenção nos bairros, nas gírias, nas ruas e nas esquinas de uma cidade única. Gregório retoma o voo, o fio da meada ao falar do seu dia a dia, das coisas e curvas do muito ordinário. Nestes momentos encontramos um poeta despretensioso, que não briga com as palavras, que não exige tanto delas, mas aceita o que existe ali de necessário.

Gregório, corajoso, mostra a cara ao arriscar-se pelos meandros da literatura, um terreno tantas vezes perigoso. Entre luzes e sombras, são promissoras as estranhas nuvens deste escritor que entra, sorrateiro, pela porta dos fundos da poesia.



Ligue os pontos – poemas de amor e big bang

• De Gregório Duvivier
• Editora Companhia das Letras
• 88 páginas, R$ 29,50

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