Psicanalista Alberto A. Reis lança o romance histórico 'Em breve tudo será mistério e cinza'

Obra é ambientada na região de Diamantina no século 19

por Carlos Herculano Lopes 21/09/2013 09:00
Cia das Letras/Divulgação
Especialista em saúde pública, Alberto A. Reis pesquisou no Brasil e na França para escrever seu romance (foto: Cia das Letras/Divulgação)
Tendo como pano de fundo a saga dos irmãos franceses François e Victor Dumont (François viria a ser avô de Alberto Santos Dumont), que chegaram ao Brasil em 1825 em busca das tentadoras riquezas do Distrito Diamantino – e a princípio se estabeleceram em Guinda –, depois de um breve período no Rio de Janeiro, o psicanalista Alberto A. Reis acaba lançar o instigante romance histórico Em breve tudo será mistério e cinza.

Mineiro de Belo Horizonte, de família com raízes no Serro, ele conta que sua ideia inicial era escrever um romance sobre um possível encontro que Santos Dumont teria tido com Marcel Proust em Paris, onde viveram na mesma época e tinham gostos em comum. Mas à medida que foi realizando suas pesquisas – nos anos de 1970 ele vivia na França –, foi também crescendo em sua imaginação o interesse pela história dos irmãos François, sua mulher Honorée, e Victor Dumont, que, ainda bem jovens, resolveram deixar a boa vida na França para tentar a sorte no Brasil, correndo todos os riscos. Sobre o que iriam encontrar, nem faziam ideia.

 “Se até hoje chegar a Guinda ainda é uma aventura, como pude comprovar, imagine naquela época, quando não havia estradas e tudo era mais difícil”, diz Alberto Reis, que resolveu entrar fundo na história dos Dumont. Mas ele avisa: “É tudo ficção, apenas me utilizei de determinados fatos históricos e de personagens, como François, Victor e Honorée, que deixaram, como tantos outros, suas marcas em Minas”.

Ainda de acordo com o romancista, os Dumont chegaram ao Brasil num momento sensível do país, apenas três anos depois da independência, e aqui fincaram raízes. “A nacionalidade começava a ser constituída aos poucos e eles foram se abrasileirando. Começaram a participar de todo o processo de construção de uma nova nação, da qual passaram a fazer parte”, diz.

Realidade ou ficção, o escritor conta ainda que, para escrever o livro sobre o qual se debruçou durante seis anos, pesquisou obstinadamente sobre a história de Minas, em particular do Distrito Diamantino e de seu entorno. “Aquele era um mundo especial, um país dentro do país, com fronteiras demarcadas, proibido para estrangeiros e que tinha ainda rebeliões de escravos. Sem falar da violência e do famoso Livro da capa verde, que regulava a vida de todo mundo. Ser marcado nele era uma temeridade”, conta Alberto.

Muito importante na construção do romance – como o autor faz questão de dizer – foi a ajuda que ele teve da professora Júnia Furtado, da UFMG, especialista na história de Minas, com vários livros escritos sobre o tema. “Nossas conversas foram fundamentais”, reconhece Alberto Reis.

Além da saga ficcional em torno dos irmãos Dumont – hoje uma grande família em Minas, com ramificações em boa parte do país – Alberto A. Reis escreveu um livro que, à parte de toda fantasia, aborda momentos importantes da história brasileira, como a Revolução Liberal de 1842, liderada por Teófilo Otoni, nascido no Serro. Fala também do sertão da Farinha Podre, da saga de dona Beja de Araxá e outras histórias.

Em breve tudo será mistério e cinza é um livro recheado de mistério. Tem ainda aventura e a eterna procura pelo desconhecido. “Meu maior compromisso, ao escrevê-lo, foi com o destino humano”, resume o autor.


Em breve tudo será mistério e cinza
•  De Alberto A. Reis
•  Editora Companhia das Letras
•  564 páginas, R$ 56

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