A ideia dos organizadores de Cidades rebeldes... é ampliar o debate iniciado pelo Movimento Passe Livre (MPL), que também assina um artigo. Os temas são variados: direito ao transporte público, mobilidade urbana, manifestações e violência, partidarismo, luta política e democracia. O coletivo Mídia Ninja, atuante na internet e responsável pela transmissão dos protestos ao vivo, contribui com registros fotográficos.
De acordo com a urbanista Raquel Rolnik, que assina a apresentação do livro, os fatos recentes observados no país fizeram renascer utopias, abrindo espaço para a discussão de novas formas de articulação. "No campo imediato da política, o sismo introduziu fissuras na perversa aliança entre o que há de mais atrasado/excludente/prepotente no Brasil e os impulsos de mudança que conduziram o país na luta contra a ditadura e o processo de redemocratização; uma aliança que tem bloqueado o desenvolvimento de um país não apenas próspero, mas cidadão", afirma ela.
O MPL – São Paulo detalha seus objetivos, vinculando a questão da tarifa do transporte público ao direito à cidade propriamente dito. Cartazes, faixas e palavras de ordem exibidas durante passeatas explicitaram a aliança do direito à mobilidade com temas relativos à questão urbana no Brasil. Com isso, estão na berlinda megaeventos priorizados por governantes – chancelados pelos poderes Executivo e Legislativo e, por vezes, pelo Judiciário.
"Os capitais se assanham na pilhagem dos fundos públicos deixando inúmeros elefantes brancos para trás", destaca Ermínia Maricato. A reforma urbana voltou à ordem do dia, depois de frequentar a pauta nos anos 1980/1990 e ser ofuscada pelo modelo de desenvolvimento urbano neoliberal, "voltado única e exclusivamente para facilitar a ação do mercado e abrir frentes de expansão do capital financeirizado, do qual o projeto Copa/Olimpíadas é a expressão mais recente e radical", destaca a especialista.
Os artigos não se limitam a São Paulo, palco das primeiras manifestações em junho. Felipe Brito e Pedro Rocha de Oliveira analisam a conjuntura carioca, demonstrando a relação entre o projeto excludente de cidade e a militarização dos territórios populares. O livro também oferece reflexões sobre a conexão entre os protestos brasileiros e aqueles assistidos em Istambul, assim como a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street e os Indignados da Espanha. Busca-se compreender o que há em comum entre as ruas brasileiras e as praças Tahrir (Egito), do Sol e Catalunha (Espanha), Syntagma (Grécia) e Taksim (Turquia).
De acordo com os autores, a república representativa nascida no século 18 dá sinais de profundo esgotamento. O desafio é compreender e assimilar formas horizontais de decisão, que vão de encontro a partidos, comitês centrais, parlamento e governantes.