A grande questão que mobiliza o autor é: como dar historicidade ao cotidiano? Na verdade, quem procura leituras na área de história – e o sucesso de livros com essa temática, canais de televisão, revistas e festivais, como o que será realizado este ano em Diamantina – sabe que não sabe. Há um sentimento socrático por trás dos amantes da história, que responde a princípio pela busca do contexto e que depois vai se espalhando por vários momentos da vida, dos grandes acontecimentos aos fatos do cotidiano. Tudo é história, como foi batizada uma coleção de livros de divulgação que fez sucesso nos anos 1970 e 1980.
Mundo e família
Jaime Pinsky dividiu o livro em oito seções. Na primeira, “História”, coloca em cena o próprio interesse pela disciplina, discutindo aspectos como a relação entre história e jornalismo, a sensação de aceleração do tempo por parte da cultura jovem, o lugar das mulheres na história e, num capítulo mais informativo, apresenta a obra de Jack Goody, um antropólogo da civilização que ensina a respeitar o outro, atitude nem sempre comum num mundo marcado pela intolerância.
A segunda parte, “Cultura”, a partir de exemplos tirados do dia a dia, analisa temas importantes, como a relação entre cultura oral e escrita, a diferença entre sabedoria e erudição, o valor da arte popular, o sentido civilizador de uma visita ao museu e até uma singela sugestão de presente a ser dado às pessoas que prezamos: livro (“um objeto feito de papel impresso, muita imaginação e um pouco de sabedoria”). As seções seguintes têm sempre o mesmo estilo provocador e capaz de despertar a curiosidade do leitor. Em “Mundo”, Pinsky fala a questão do nacionalismo, da identidade e da paz; em “Povos e nações”, faz exercícios de análise sobre questões relevantes de países europeus, da África e do Oriente Médio.
As seções que completam o livro reúnem textos agrupados sob a chancela de “Cotidiano”, sobre cidades, politicamente correto e corrupção, entre outros temas; “Educação”, que trata do professor, das diferenças culturais entre países e enumera sugestões para melhorar o ensino no país; e “Brasil”, que disseca a cultura de corrupção que cerca o Estado e a sociedade, na indistinção anacrônica e atávica entre os setores público e privado – quando não em oposições ainda mais antigas, como as que escondem os negócios do homem e os interesses de Deus.
Ao final, Pinsky pede permissão para mergulhar em suas referências mais pessoais, mostrando que família também tem história e muitas estórias.
POR QUE GOSTAMOS DE HISTÓRIA
De Jaime Pinsky
Editora Contexto, 222 páginas, R$ 29,90