O quarto número da revista de fotografia contemporânea Zum, editada pelo Instituto Moreira Salles, equilibra inteligência e sensibilidade, com trabalhos inéditos nas áreas de imagem e texto. Um dos destaques da edição é o ensaio Cinquenta e cinco, de Rosângela Rennó, feito especialmente para a publicação. A artista mineira parte da coleção de slides de família, feita a partir de viagem realizada em 1958 pelos EUA, que ganham intervenções que revelam o olhar da fotógrafa sobre o acervo.

Outro ensaio, da fotógrafa americana Katy Grannam (do qual faz parte a imagem da capa da revista), reúne 11 retratos de personagens das ruas de São Francisco e Los Angeles, feitos entre 2008 e 2010. São imagens de prostitutas, viciados e personagens marginalizados que vivem na fronteira entre a realidade e a fantasia urbana contemporânea, que dinamitam as convenções estéticas de beleza. Também feito para a Zum é o trabalho do jornalista Arthur Lubow, uma apresentação de Garry Winogrand (1928-1984), que retratou com sua câmera o pós-guerra americano.

Artigo de Dorrit Harazim mostra como o fotógrafo chinês Li Zhensheng, a partir de um jornal de província, conseguiu documentar o lado oficial e a face proibida da Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung. O texto é ilustrado pelas imagens que sobreviveram escondidas no assoalho da casa do fotógrafo e que assim escaparam da censura. As imagens vão da celebração à violência contra os opositores do regime.

A publicação traz ainda entrevista de Pierre Bourdieu (1930-2002) sobre fotografia, na qual o sociólogo fala da importância das imagens em eventos políticos como a guerra da Argélia, nos anos 1950 e começo dos 60. Bourdieu revela ainda sua própria experiência como fotógrafo, lado pouco conhecido de seu trabalho. Completam a edição trabalhos do cineasta alemão Win Wenders e fotografias da brasiliense Bárbara Wagner sobre maracatu em Pernambuco.

ZUM
• Revista de fotografia
• Edição IMS,
• 184 páginas, R$ 45