A trama: um livreiro, traído pela mulher, é desafiado por ela a decifrar o motivo do desatino que a leva a se entregar a um estranho. Logo o homem fica conhecendo um matemático, que também sofre uma infelicidade ligada à mulher, que depois de se prender à busca de uma equação que resolvesse seus dilemas resolve trocar os números pelas letras. Com amplo acesso à livraria do novo amigo, ele decide compor uma obra que tenha em seu interior a decifração dos mistérios da infelicidade humana. Logo o processo se amplia, é necessário contratar um impressor, um revisor e um editor. Cada um, com sua arte e sofrimento, incorpora novas dificuldades para dar cabo da tarefa de fazer o livro perfeito.
Ao empenho em descobrir o motivo da dor de cada um dos dedicados construtores do livro se soma a tarefa impossível de produzir um objeto que seja impresso com uma tinta tão sutil que se evapore à primeira leitura. A loucura dos personagens, marcada pelo registro próprio de seu sofrimento, vai sendo acrescida do tormento do outro, para dar conta de criar o livro dos livros, que leva o nome de Tinta. A lógica circular faz avançar a narrativa até a consumação final.
Fernando Trías de Bes é hábil na composição do romance, define bem os personagens, intercala momentos em primeira pessoa com a terceira, apresenta outras vozes e mantém o mistério ao longo da trama. Enxuto e intenso, Tinta é um livro sobre a paixão e os livros. Enquanto não acabam com eles.
TINTA
• De Fernando Trías de Bes, tradução de Cristina Antunes
• Editora Autêntica
• 136 páginas, R$ 35