Livros sofisticados sobre arte são cada vez mais oferecidos a jovens leitores

Situação que contrasta em tudo ao oferecido aos adultos, basicamente arte antiga e modernismo clássico

por Walter Sebastião 13/04/2013 06:00
Há um gibi dos anos 1970 – Ranxerox, de Tanino Liberatore e Stefano Tamburini – que tem personagem divertido: um rapaz de 17 anos, o mais temido crítico de arte de Roma. A julgar pela sofisticação dos livros sobre arte oferecidos aos jovens leitores, em breve o personagem vai se tornar real. Um exemplo: O que é arte contemporânea? (Editora Claroenigma), de Jacky Klein e Sezy Klein.

A pop art e a arte conceitual dos anos 1960 e 1970, no volume, são, praticamente, apenas referências, para apresentar o que veio depois, obras basicamente dos anos 1980, 1990 e várias dos anos 2000. Situação que contrasta em tudo ao oferecido aos “adultos”, basicamente arte antiga e modernismo clássico.

Clássicos (ou candidatos a clássicos) em O que é arte contemporânea? é a turma que nasceu de 1930 para a frente. Vários deles autores pouco conhecidos fora dos círculos especializados e com obras que merecem consideração. Como Robert Ryman, Robert Morris, Richard Long, Bruce Naumann, Chris Burden, entre outros.

O texto não responde à pergunta que dá título ao volume. Prefere apresentar obras que provocam o leitor a responder à questão. É volume simpático e que traz, ao final, biografia dos artistas, glossário e demais informações didáticas. As obras são todas do Museu de Arte Moderna de Nova York, que também criou o catálogo.

Podem-se fazer algumas ressalvas ao volume. A mais importante delas é a ausência, no texto, de alguma observação que, claramente, afirme a importância de ver as obras ao vivo. Não basta explicar que são grandes, pesadas ou como foram feitas. Depois, observação breve, mas sempre esclarecedora, e intrigante, vinda de Lionello Venturi: que a única “certeza” sobre a arte é que muda ao longo do tempo. Consideração essencial para que não se troque uma visão reduzida por outras igualmente limitadas.

O contexto posto pelo livro ainda é maciçamente formado por europeus e norte-americanos – há uma obra da brasileira Anna Maria Maiolino. E o que é valorização de um acervo esconde fenômeno importante: intensa atividade artística, em escala global, que interpela história que ainda é muito centrada exatamente em contexto europeu e norte-americano e, nestes ambientes, reduzida a alguns países, regiões e cidades tidas como cosmopolitas.

O que é arte contemporânea?
• De Jacky Klein e Sezy Klein
• Editora Claroenigma
• 64 páginas, R$ 39,50

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