A influência de Nan Goldin no trabalho do brasileiro é marcante. “Tanto ela, quanto Larry Clarke e (o japonês) Nobuyoshi Araki são fotógrafos que admiro muito, que abriram caminho para minha geração. A grande diferença entre eles e eu é que eles documentam a realidade, mostram o que está acontecendo. Já as minhas realidades são criadas. Utilizo a linguagem mais realista para criar o que quero contar.” A linha divisória é tênue, tanto que sua imagem mais conhecida (a da capa do álbum Walking wounded, que o duo Everything but the Girl lançou em 1996) costuma ser confundida. “Já veio gente falando comigo que aquela foto havia sido feita quando eles estavam indo para um prêmio da MTV. Não, ela foi inspirada numa outra que fiz de uma produção de moda. Para captar aquele momento, utilizei três rolos de filme.”
Mistura
Há artistas nas imagens – Caetano Veloso (para a revista norte-americana de música Spin) e Marina Lima (para um CD da cantora) entre os brasileiros – mas a maioria dos personagens que Krasilcic escolheu para contar a sua história são anônimos. “É uma mistura grande de pessoas. Estão meus pais, minha irmã. Há nus de pessoas com quem tive relacionamento sexual, mas a grande maioria não. Tento não fazer diferença quanto a isso. Não importa se quem está nu ali é minha irmã, e sim o que aquela imagem conta.” Nessa viagem ao passado ele comenta que, quando imaginou o livro, sabia que fotos iria separar. “Vinte por cento do material acabou entrando para preencher espaços da história. Há fotos inclusive que eu nunca tinha visto, como a de uma cabeça de um manequim numa cadeira numa feira em Berlim.”
Todo o material foi produzido na era pré-digital. “Sou o mesmo fotógrafo, tenho hoje uma maneira parecida à do passado de trabalhar. A diferença na moda, por exemplo, é que nos anos 1990 não se dava importância para a roupa. A ideia da imagem era mais importante, ela que tinha que ser interessante. Se era boa, seria boa para a roupa também. Hoje em dia não, e o desafio é até maior, pois a roupa tem que estar no centro da foto, então você tem que trazer outras ideias”, continua Krasilcic, que mesmo radicado em Nova York atua bastante no Brasil. Em abril, ele vai a São Paulo para lançar 1990s durante a SP Arte.
1990S
De Marcelo Krasilcic
Editora Cosac Naify, 332 páginas, R$ 160