Currículos mais criativos?

Com design inovador, cores diferenciadas, às vezes até em formato de algum objeto ou em vídeo... Será que esse tipo de documento é apreciado por empregadores?

08/05/2018 10:00
Karine Rodrigues/Esp. CB/D.A Press
Karine Rodrigues/Esp. CB/D.A Press (foto: Karine Rodrigues/Esp. CB/D.A Press)

Mantendo a clareza de informações, o profissional pode romper os limites definidos por modelos tradicionais de currículos e apostar em formatos que explorem diferentes linguagens, cores e formatos. No entanto, especialistas em RH ainda têm postura cética sobre o uso desse tipo de apresentação, já que há muitos riscos envolvidos: ou ela será muito boa ou será muito ruim.


Depois de trabalhar por 12 anos como empregada doméstica na mesma casa, Maria de Nazaré da Silva, de 47 anos, teve dificuldades de se recolocar quando a antiga patroa se mudou para a Espanha, em julho do ano passado. Os quatro meses em que passou desempregada não foram fáceis. Para aumentar as chances de efetivação, caprichou no currículo: com uma ferramenta on-line, conseguiu fazer um modelo bonito e simples, mas que chama mais a atenção do que formatos comuns. Para completar, fez cartazes criativos anunciando serviço de diarista, a fim de colocá-los em quadros de avisos de empresas. A estratégia deu certo. “O currículo me abriu muitas portas. Logo comecei a ser chamada para várias faxinas”, diz.


Hoje, com a agenda cheia, Nazaré definiu um novo objetivo: daqui pra a frente, pretende trabalhar apenas como diarista, a fim de ter maior flexibilidade de horários. Ela não conhece ninguém da área que tenha tido a mesma ideia para promover a própria imagem, visto que, normalmente, as contratações são feitas pelo boca a boca. A piauiense é prova, porém, de que é possível inovar no currículo, nem que seja um pouquinho, e, assim, conseguir se destacar em qualquer área.


Esse documento é o primeiro passo para conseguir ser chamado para uma entrevista. Diferentemente do que se possa pensar, não deve parecer uma biografia. Trata-se da sua arma para atravessar o funil da seleção, que, acredite, é cruel: em muitos casos, recrutadores vão gastar apenas 30 segundos olhando seu currículo.


Para conseguir prender a atenção, o que mais importa ainda é o conteúdo, que precisa transmitir qualidades profissionais e comportamentais de modo sucinto. No entanto, a forma também pode ajudar a atrair os olhos do selecionador. A diferença entre o remédio e o veneno, porém, é a dose! Currículos diferentões demais, que exijam muito tempo e paciência para ser desvendados, também podem ser negativos. “A linha entre a criatividade e o que não pode cair bem é muito tênue”, alerta Tomás Arregui, diretor de Operações da consultoria Stato.


Quem conseguir acertar, porém, deixará boa impressão, como destaca Marcelo Olivieri, diretor da Trend Recruitment: “Currículos fora do padrão demonstram criatividade, iniciativa, perfil arrojado e sem medo de arriscar”. Segundo Olivieri, as empresas valorizam alguém que pensou sobre o empregador e criou algo para chamar sua atenção de forma positiva. “Dependendo da área ou da criatividade, pode abrir uma porta.” É preciso usar a ferramenta com parcimônia, lembrando-se de que o principal ainda é o conteúdo.

INOVADOR É o que ensina Rodrigoh Henriques, gestor de estratégias educacionais do Instituto Fenasbac (Federação Nacional de Associação dos Servidores do Banco Central), especializado em capacitação profissional. “Preocupe-se primeiro com os detalhes básicos, para depois caracterizar o documento criativamente. Nada disso está errado, o problema é que não adianta usar um formato ousado, mas deixar passar erros de ortografia e colocar objetivos genéricos, por exemplo”, orienta.


Psicóloga e sócia da Trajeto RH, Angélica Guidoni afirma que o risco de se equivocar tentando criar um modelo inovador é alto. Por isso, conhecer a companhia em que quer trabalhar é fundamental. “As empresas têm culturas e padrões. Um currículo diferenciado não é para todos os ramos – é mais indicado talvez para negócios ligados a tecnologia e mídia. Se você conseguir se comunicar de forma mais direta por meio de um canal diferente, pode ser uma boa ideia, mas as formas tradicionais, se benfeitas, ainda são muito fortes”, completa.


* Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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