Uai Entretenimento

MÚSICA

Conheça a Bahia subversiva de Jadsa, que lança o disco 'Olho de vidro'


Não faz parte da vida de Jadsa respeitar fronteiras e definições. A artista baiana, que atualmente acumula as atribuições de cantora, compositora, guitarrista e diretora musical, não se ateve a um único estilo ao produzir seu primeiro álbum, “Olho de vidro” (Balaclava Records). Gravado em São Paulo entre 2018 e 2019, o disco apresenta uma leitura livre de gêneros como o rock, o samba e o reggae por meio de canções que parecem saídas de uma sessão de improviso.




“Quando comecei a criar esse trabalho, queria que ele fosse uma plataforma para me apresentar. Nele, tento comunicar o que eu entendo sobre a vida”, explica.

SINGLES 

Esse “cartão de visitas” começou a ser apresentado em fevereiro, com a chegada do single “A ginga do nêgo”. Até o lançamento do álbum, foram liberadas “Raio de sol”, com participação de Ana Frango Elétrico e Kiko Dinucci, e “Lian”, escrita em homenagem à cantora Luiza Lian, que participa da faixa.

Indefiníveis, as três músicas já mostravam o quanto Jadsa bebeu de referências locais durante sua estadia em São Paulo, para onde se mudou com a vontade de construir um disco cheio. Por isso, compará-lo a trabalhos de Juçara Marçal, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e do próprio Dinucci não é algo infundado.

“Fui atrás desse disco. Não sabia onde ou como poderia gravá-lo. Na época, éramos só eu e o (baixista) Caio Terra. Saímos pela cidade caçando lugar, vendendo o nosso trabalho e fazendo propostas. A coisa começou a rolar quando fui selecionada pelo projeto Natura Musical”, conta.



Outra influência inquestionável é a do compositor Itamar Assumpção (1949-2003), a quem Jadsa dedica o álbum. A música do paulista serviu de ponte para ela conhecer outros artistas em São Paulo.

“Depois que escutei Itamar, virou uma chavinha na minha cabeça e abriu possibilidades. A música, a imagem e a energia dele formam uma presença que é quase uma entidade”, afirma.

“Quando escuto um disco de Itamar, parece que estou escutando pela primeira vez. Nunca lembro a música que começa ou termina. É muita informação e novidade, você se perde. Às vezes, encontra alguma brecha para se encontrar. A cabeça de Itamar é uma pesquisa.”

À sua maneira, Jadsa recria essa obliquidade em “Olho de vidro”. Isso não significa que o disco é inacessível. Muito pelo contrário, a maneira como ela explora o som das palavras e as esvazia de significado, tratando-as como elementos sonoros da canção, torna algumas faixas bastante lúdicas, como é o caso de “Mergulho”, “Selva” e “Vidrada”.



Em outros momentos, a letra soa como comentário franco sobre a realidade. “Tomei um susto com o jornal/ O que ele disse me fez mal/ Tô meio azeda, meio down/ Tomei um baque”, diz o verso de “Já ri”.

“Power” e “Nada” expõem a disposição de Jadsa para o rock. Foi a maneira de dizer que a Bahia não se limita a estilos associados ao carnaval. Não à toa, “Run, baby” tem a participação da cantora e compositora baiana Josyara.

Pagode 

“Quando se fala em música baiana, a primeira coisa que vem à mente é o axé e o pagode. A Bahia também é feita de roqueiros. Quero mostrar esse lado alternativo e subversivo baiano. Não em oposição a nenhum ritmo, mas a coligação do rock com axé para dizer que a Bahia tem tudo isso”, afirma.



Finalizado em 2019, o disco seria lançado em março de 2020. Diante da pandemia, Jadsa decidiu adiá-lo. “Naquele momento, não rolava. Era um momento muito conturbado. A gente aproveitou o restante do ano para se recuperar do baque e reestruturar o lançamento”, conta.

De volta à Bahia desde outubro de 2020, ela encara a decepção de não poder fazer show ao vivo para lançá-lo. “É como se terminasse um TCC e não apresentasse. Fico triste por ainda não estar rolando, mas quando puder, seja daqui a alguns meses ou anos, estarei no palco”, promete.

“OLHO DE VIDRO”

.De Jadsa
.Balaclava Records
.14 faixas
.Disponível nas plataformas digitais