Após três anos, irmãs Haim voltam com disco nota 10

WIMPIII transita com maturidade por múltiplos gêneros musicais e impressiona pelo refinamento poético das letras do trio

Guilherme Augusto 04/07/2020 04:00
TOLGA AKMEN/AFP
Este, Danielle e Alana voltam com disco bem produzido, recheado de temáticas que andam na ordem do dia, mas sem ser enfadonho (foto: TOLGA AKMEN/AFP)
Desde a estreia com o disco Days are gone (2013), o trio estadunidense Haim, formado pelas irmãs Danielle, Alana e Este, não dava sinais de que sobreviveria tanto tempo na indústria da música. O segundo disco, Something to tell you, só saiu cinco anos depois, em 2017, e veio cheio de ressalvas: repetindo a fórmula do trabalho anterior, o álbum não trazia apelo suficiente para o retorno de um grupo que ficara tanto tempo sem registros inéditos.

Mas sempre há uma nova chance, ainda mais quando se tem inegável talento e o suporte de uma grande gravadora – nesse caso, a Polydor Records. Ainda assim, Woman in music pt. III – ou WIMPIII, como a banda gosta de chamá-lo –, é fruto de uma escalada que começou em 2019, quando o trio passou a utilizar o próprio público para testar novas canções para um possível registro.

Naquele tempo, mais precisamente no final de julho, as irmãs lançaram o single Summer girl. Levemente diferente do que elas já haviam experimentado, a música conquistou a turminha alternativa por trazer os famosos ''du-du-du'' de Walk on the wild side, clássico de 1972 eternizado por Lou Reed.

Mais tarde, elas apostaram em mais um single avulso. Now I'm in it chegou às plataformas digitais em outubro e mostrou o potencial das artistas para uma abordagem mais pop. Embalada por um instrumental meticulosamente cativante, sem excessos, a canção vai às metáforas para falar sobre saúde mental e depressão.

Um mês depois, o trio lançou a balada Hallelujah, cujos ares countries pareciam ir contra tudo o que elas já tinham feito. Interessante e bem-executada, a música foi escrita como homenagem póstuma a uma amiga de Alana e comprova o talento das três como compositoras.

Vale lembrar que as três músicas, assim que lançadas, ganharam belas traduções audiovisuais dirigidas pelo cineasta Paul Thomas Anderson.

Mas tudo isso era só um teste.

Jogada esperta, os singles aparecem somente como faixa bônus em WIMPIII, o que reitera a teoria de que as canções foram pensadas como iscas, tanto para o público que já acompanhava o trio como para aqueles que conheceram o trabalho delas mais recentemente. Além disso, o sucesso dessas canções deu a credencial necessária para as Haim investirem em sonoridades experimentais.

Algo que está bastante presente em The steps, single lançado em março e que marcou o início da divulgação oficial do disco. Em ritmo animado, com uma sonoridade crua e, vez ou outra, levemente agressiva, a canção fala sobre um relacionamento abusivo. Elevada a outro nível, é possível considerar que esse relacionamento poderia ser o das três irmãs com a indústria na qual elas se inserem.

Bebendo na fonte do pop 


Alguns elementos de Los Angeles, a faixa de abertura, fazem uma clara referência a Summer girl. 3am, All that ever mattered e Up from a dream mostram o flerte com o pop. E a tríade Leaning on you, I've been down e Man from the magazine são uma versão atualizada e renovada da country music de Hallelujah.

Terceira faixa, I know alone merece ser reconhecida como uma das melhores do disco. Nela, Danielle, Alana e Este lançam mão de um instrumental melancólico que explode em vocais distorcidos e notas de violino no refrão.

Outra destaque é Gasoline, na qual o talento de Danielle como vocalista fica bastante evidente, o que também ocorre em FUBT, faixa final do trabalho. Nas duas, impressiona a qualidade poética das letras.

Para os viúvos de Forever e The wire, as canções que colocaram as irmãs no mapa, há Don't wanna e Another try. Ainda assim, não são músicas anacrônicas, e a abordagem delas acompanha o restante do disco.

Previsto originalmente para 24 de abril, Woman in music pt. III foi adiado logo antes do lançamento por causa da pandemia do coronavírus. Na época, as Haim justificaram que não estavam 'no clima' para lançar o disco. Desde então, elas usaram bem as redes sociais para divulgá-lo. Gravaram clipes em casa, participaram de talk-shows e fizeram apresentações remotas, além de promover aulas de dança pelo Zoom.

Mas a espera valeu a pena. WIMPIII comprova que, nos três anos que tiveram entre esse e o disco anterior, as artistas apuraram suas escolhas musicais e demonstram que têm um futuro garantido. Mesmo que cada uma siga seu caminho separadamente.

WOMAN IN MUSIC PT. III
.Haim
.Polydor Records/Universal Music
.Disponível nas plataformas digitais

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