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Escândalo sexual e manipulação contaminam premiação do Grammy


Em meio a escândalos sexuais, denúncias de manipulação, extorsão e jogos de carta marcada, o Grammy conhecerá hoje os vencedores de sua 62ª edição. Eleita em 2019 como a primeira mulher presidente da Recording Academy, instituição responsável pela organização do prêmio, Deborah Dugan foi demitida do cargo cinco meses depois, por alegada má conduta. Agora, processa a organização invocando assédio sexual e irregularidades nas votações e finanças do grupo. Serão premiadas 84 categorias, entre elas música do ano, gravação, álbum e revelação.

De acordo com Deborah, seu afastamento da premiação foi ordenado apenas três semanas depois de ela ter enviado um e-mail para o diretor-geral de recursos humanos. No processo de 46 páginas protocolado junto à Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego, agência do governo federal que fiscaliza situações trabalhistas nos Estados Unidos, ela destaca inúmeras acusações contra uma “liderança historicamente dominada por homens”.



No documento, Deborah detalha “conflitos de interesse flagrantes, negociação indevida por parte dos membros do conselho e irregularidades na votação com relação às indicações ao Grammy Awards, tudo isso possibilitado pela mentalidade do ‘clube dos meninos’ e pela abordagem de governança na Academia.”

No processo, ela acusa dois membros de assédio e abuso sexual. A primeira alegação é contra o conselheiro-geral da instituição, Joel Katz.  Num jantar de negócios, em maio do ano passado, o advogado teria dito repetidas vezes que Deborah era “linda”, chamando-a de “querida”, sugerindo que ele era “muito, muito rico” e que, juntos, ambos poderiam dividir “viagens para suas muitas casas”, antes de tentar beijá-la. Em comunicado enviado à revista Rolling Stone, os advogados de Katz negaram todas as acusações.

Outra parte do processo diz respeitoà acusação de estupro contra o antigo CEO da entidade, Neil Portnow, por parte de uma artista estrangeira, cujo nome não é revelado. Deborah sustenta que foi conduzida para uma reunião a portas fechadas, após ter aceitado o cargo de presidente, e então foi informada dos processos. “Um psiquiatra confirmou que a relação sexual entre a artista e o senhor Portnow provavelmente não foi consensual”, diz o diagnóstico de um psiquiatra citado no processo. 

Uma das partes do processo é dedicada à denúncia de que existem inúmeros conflitos de interesse e compra de voto por influência tanto na indicação quanto na entrega do principal prêmio da música mundial. De acordo com ela, existem “comitês secretos” que decidem quem é indicado ou não em cada categoria, mesmo que a Academia tenha 12 mil membros votantes. Essas escolhas seriam feitas por representantes diretos dos artistas e, em casos específicos, pelos próprios nomes que irão concorrer posteriormente.



VOTO DIRIGIDO 

Entre as supostas manipulações, ela sustenta que artistas que concorrem à categoria de melhor vocal de jazz são os mesmos responsáveis pelas indicações. Os “comitês secretos” são apresentados com uma lista de 20 nomes finalistas para cada categoria, mas muitas vezes ignoram os pré-selecionados pelos 12 mil votantes.

Um caso específico diz respeito ao prêmio de Música do Ano em 2019, um dos principais do Grammy. De acordo com Deborah, um artista que não estava entre os finalistas de destaque recebeu a indicação, em detrimento de nomes como Ariana Grande e Ed Sheeran, favoritos. Neste caso, o artista havia ocupado a posição 18 no ranking final de 20 e contava com um representante próprio no “comitê secreto”, além de ter participado pessoalmente da reunião. A ex-CEO afirma ainda que as indicações podem ser manipuladas com base nas músicas que o produtor da premiação, Ken Ehrlich, quer que sejam apresentadas no evento televisionado pela rede CBS.