Festival reúne pioneiros do 'BRock' na Esplanada do Mineirão

Os Paralamas do Sucesso, Jota Quest, Blitz, Humberto Gessinger, Nando Reis, Sideral e Legião Urbana se apresentam neste sábado (23)

Mariana Peixoto 22/11/2019 04:00

Roberto Gurgel, o Juba, 67 anos, baterista da Blitz, lembra-se muito bem de gravar com a banda nos estúdios da EMI, no Rio de Janeiro, e acompanhar os testes de então ilustres desconhecidos: Legião Urbana e Paralamas do Sucesso estavam entre eles. Na época, 1982, o grupo capitaneado por Evandro Mesquita era grande. Enorme, dada a repercussão do single Você não soube me amar no ano anterior. De olho no público jovem de um país que começava a se descobrir – ali era o início do processo de redemocratização –, a gravadora contratou também aquelas duas bandas que Juba conheceu no teste.

O resto é história. Sucessos, excessos, brigas, separações, mortes, retornos, o rock nacional, passados quase 40 anos, continua vivo e chutando. Parte desta geração se encontra neste sábado (23) na Esplanada do Mineirão. Criado em 2018, em Curitiba, o Prime Rock Festival já teve uma edição na capital paranaense (a segunda ocorre no início de dezembro) e em Recife. Chega a Belo Horizonte com a seguinte escalação: Wilson Sideral, Blitz, Nando Reis, Humberto Gessinger, Paralamas do Sucesso, Jota Quest e Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá com o repertório da Legião Urbana.


Das atrações, vale dizer que as duas mineiras não são da geração 80. Mas não há como negar que Jota Quest e Sideral são crias dela – que despontaram no cenário belo-horizontino nos anos 1990, foram influenciados pela geração anterior. E a continuam reverenciando: não custa lembrar dos shows que os irmãos Rogério Flausino e Wilson Sideral vêm fazendo com o repertório de Cazuza.

“Fomos nós que botamos o ovo em pé”, brinca Juba, que chegou à Blitz em substituição a Lobão, que condicionou ficar na banda caso a gravadora também apostasse em sua carreira solo. Paulistano que havia tocado com meio mundo da época (as bandas Made in Brazil e Joelho de Porco, Rita Lee, Secos e Molhados (sem o Ney), Guilherme Arantes), Juba teve que se mudar para o Rio quando assumiu o posto – lugar que nunca mais deixou.

Jorge Bispo/divulgaçãoM Miki/Divulgação
Veterana, a Banda Blitz abriu os caminhos no país para o rock com linguagem nacional (foto: Jorge Bispo/divulgaçãoM Miki/Divulgação)

Para justificar a continuidade do grupo, ele enumera: “A Blitz foi a primeira banda a fazer show na Praça da Apoteose, a se apresentar no Maracanã em matinê para crianças, a inovar com cenário (já na época assinado por Gringo Cardia). Há dois anos, quando completamos 36, tivemos nosso melhor ano. Tocamos em todos os grandes festivais, gravamos um novo disco, fomos indicados ao Grammy latino. Tanto reconhecimento motiva demais a gente”.

Prestes a ganhar um documentário – Blitz, o filme, de Paulo Fontenelle, será lançado em dezembro no Festival do Rio –, o grupo atual não vai com tanta sede ao pote. São dois shows por semana, em lugares grandes. “Tem banda que fala que vai voltar e nada acontece. Agenda só existe quando seu telefone toca pedindo show. E na Blitz o telefone toca muito”, diz Juba.

Cesar Ovalle/Divulgação
Nascido nos anos 1990, o Jota Quest é uma espécie de 'cria' das velhas gerações (foto: Cesar Ovalle/Divulgação)


Uma legião para ser relembrada

O fechamento do Prime Rock Festival será com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que desde 2016 montaram um grupo para tocar o repertório da Legião Urbana. Eles vão centrar a apresentação no segundo e terceiro discos do grupo (Dois, de 1986 e Que país é este?, de 1987).

“Demanda existe, se não a gente não sairia de casa”, comenta Dado, 54. “É sempre bom encontrar nossos colegas em um grande evento, pois a questão da força faz a diferença. Ter todo mundo junto representa muita coisa”, comenta ele, lembrando que desde o retorno, com André Frateschi nos vocais, a reunião é uma interpretação da Legião. “Não é a Legião Urbana, nunca foi e nunca será. É um show para celebrarmos nossas vidas, satisfazermos ao público e a nós mesmos, como é nosso direito fazer”.

O show que está em curso dará lugar a um outro. O álbum As quatro estações (1989), que está completando 30 anos, deverá ser visto no palco em 2020. “Ainda mais porque foi em 1990 que saímos em turnê neste disco.” Para a noite deste sábado, Dado não descarta alguma surpresa com os Paralamas. “A gente é irmão, está ali junto desde sempre.”

O baterista João Barone, 57, lembra do apelo que um evento de grande porte tem para o público. “O Bi (Ribeiro, baixista dos Paralamas) costuma resumir esta questão do rock brasileiro dizendo que acha que ele está onde sempre esteve. Pois, além daquele momento mais esfuziante da geração 80, em que a Blitz foi o pavio, fora um momento ou outro de megaexposição, o rock é autossuficiente. Fica todo mundo lamentando o sertanejo, a sofrência. Acho que cada um fica na sua praia”, comenta.

Para a participação no festival, os Paralamas vão apresentar o melhor de quase quatro décadas de trajetória. “É um show derivativo da turnê Sinais do sim (2017, o álbum mais recente) com algumas brincadeiras no bis”, diz ele. Fazendo uma média de sete espetáculos mensais, o trio está sem pressa. “Os Paralamas são uma banda de estrada. Então, acho que mais do nunca nosso papel é este. Quando tivermos assunto, vamos gravar uma música nova, mas não tem nada previsto. Como a agenda está em boa dinâmica, vamos ficar concentrados nela.”


PRIME ROCK FESTIVAL
Neste sábado (23), a partir das 14h, na Esplanada do Mineirão, Avenida Antônio Abrahão Caram, 1.001, Pampulha. Abertura dos portões: 12h. Classificação etária: 16 anos. Ingressos: Pista – R$ 140; Camarote – R$ 280; In stage (dentro do palco) – R$ 620. Valores do 4º lote (os demais esgotados) referentes a meia-entrada e para doadores de 1kg de alimento não perecível. À venda nas lojas Chilli Beans e no www.sympla.com.br (com taxa de conveniência).

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