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Rap de Flávio Renegado ganha o toque especial da Orquestra Ouro Preto


Unir o erudito ao popular inspirou Flávio Renegado a criar o álbum Suíte Masai, gravado ao vivo na comunidade do Alto Vera Cruz, que contou com a participação da Orquestra Ouro Preto (OOP), sob regência de Rodrigo Toffolo. Com arranjos do maestro Marcelo Ramos, o CD reúne 15 faixas, sendo 12 composições do próprio Renegado, que também assina a produção musical. Há três regravações: Para Lennon e Mc Cartney, Maracatu, nação do amor e Românticos. O show de lançamento em BH será em 26 de junho, no Sesc Palladium.


Renegado acredita que o disco proporciona a conexão sugerida, ao juntar música negra e europeia, sonoridades africanas, brasileiras e caribenhas. “Uma jornada musical que parte da periferia da capital mineira, desbrava as ancestralidades do Quênia e regressa com uma orquestração”, ilustra. A gravação reuniu 35 músicos, entre componentes da banda do rapper e membros da OOP em show em agosto do ano passado, na comunidade em que Renegado nasceu e onde hoje mantém seu projeto social, Arebeldia.

O músico ressalta que a troca das batidas eletrônicas por uma orquestra foi um caminho natural. “Vejo a conexão com a música erudita como ponto alto. Especialmente com uma orquestra como a OOP.
Foi muito bom encontrar um grupo de músicos eruditos dispostos a colaborar com a música popular de maneira aberta, generosa e verdadeira”, diz.

Diálogo

Ele observa que é um rapper ‘irreverente’, disposto a promover misturas. “Sempre tive essa ideia de aproximar o rap da música brasileira. A música é um lugar de libertação, de diálogo. A ideia de fazer este disco veio desde os CDs De Oiapoque a New York (2008), Minha tribo é o mundo (2012) e Suave ao vivo (2013). Minha intenção já era trazer o público para dançar”.

Para o artista, seu terceiro álbum de estúdio, Outono selvagem, já dialoga mais com o rock. “Em 2017, fiz um show na Sala Minas Gerais e pensei: ‘este terá de ser com uma orquestra’. Já estava pensando nessa ideia.
O nome Suíte Masai me ocorreu porque pesquisei muito sobre aquela tribo nômade africana, localizada no Quênia, cujos guerreiros são muito musicais.”

Então, mergulhou na cultura dos Masai. “A partir daí, procurei o Ramos, professor de música da UFMG, e acertamos fazer o show que aconteceu na Sala Minas Gerais. Posteriormente, procurei o Toffolo, lhe mostrei o material, já arranjado pelo Ramos e ele topou fazer o disco. Gravamos na minha comunidade, no Alto Vera Cruz, local onde nasci, fui criado e onde estão minhas raízes. Não poderia ser de outra forma”, defende, se referindo a uma das regiões mais carentes de BH, na Zona Leste.

Renegado levou sua banda e com a OOP fez um show que considera inesquecível. “Contamos com a participação de toda a comunidade. Cumprimos o papel da música, que é o de incluir as pessoas. É um disco gravado no calor da emoção, diante do carinho das pessoas.
Este é o disco que mais tem o meu DNA presente. Meus amigos de escola estavam presentes, muita gente que marcou em minha vida estava lá. Registramos um momento de vida, no qual a música foi o ator principal”.

Há ritmos como o samba, o reggae, o rock e a música regional, entre outros. Mudança de linha? Não. “Sou autodidata, mas hoje estudo música querendo entender mais de melodia, canto e harmonia. Não tenho a intenção de deixar o rap, mas, sim, de me tornar um rapper melhor. Sou cantor na essência”. O artista se vê mais maduro. “Sinto que botamos pra fora algo que estava para ser dito há bastante tempo. Clube da Esquina, Moacir Santos e Vander Lee fazem parte não só da minha formação musical e profissional, mas também afetiva e de identificação.”

MISSÃO CUMPRIDA


Para Toffolo, gravar com Renegado foi um imenso prazer.
Ele teve contato inicialmente com o material arranjado por Marcelo Ramos. “Ouvi e achei belíssimo. Ensaiamos e mandamos ver”. Ele concorda que a ideia de Renegado funde dois mundos: rap e música erudita. “Muitos acham que o rap não tem melodia. Ledo engano. Tem sim e é mais simples. Fomos trabalhando tecnicamente e musicalmente os arranjos. Foi um desafio, mas já viemos lidando nesse campo há um certo tempo. Isto dá à OOP aquela coisa do saber fazer, o que não é simplesmente tocar, é muito mais que isso, pois tem uma maneira de fazer muito peculiar”, ressalta Toffolo.
O resultado? “O CD ficou lindo, tem uma pegada pra cima, é para acordar o ouvinte”, compara.

REPERTÓRIO
1 – Abertura – Suíte Masai (Flávio Renegado)
2 – Conexão Alto Vera Cruz (Flávio Renegado/Gil Amâncio)
3 – Minha tribo é o mundo (Flávio Renegado)
4 – Maracatu, nação do amor (Moacir Santos)
5 – Do Oiapoque a Nova York (Flávio Renegado)
6 – A coisa é séria (Flávio Renegado)
7 – Black star (Flávio Renegado)
8 – Sei quem tá comigo (Flávio Renegado/Funk Buia)
9 – Tempo bom (Flávio Renegado)
10 – Românticos (Vander Lee)
11 – Rotina (Flávio Renegado/Gabriel Moura)
12 – Sobre peixe, flores e você (Flávio Renegado/Chico Amaral)
13 – Sai fora (Flávio Renegado)
14 – Vera (Flávio Renegado)
15 – Para Lennon e McCartney (Márcio Borges/Lô Borges/Fernando Brant)



SUÍTE MASAI

. Independente
. 15 faixas
. Preço sugerido: R$ 30
. Disponível nas plataformas digitais
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