Elza Soares volta a BH com show que exala feminismo e tolerância

Aos 88 anos, cantora levanta bandeiras em apresentação que leva o nome de seu mais recente disco, Deus é mulher

por Augusto Guimarães Pio 10/05/2019 08:50
Patrícia Lino/Divulgação
Patrícia Lino/Divulgação (foto: Patrícia Lino/Divulgação)



Alô, Minas Gerais, estou chegando! O recado, num tom simpático, é da cantora Elza Soares, que aporta em Belo Horizonte com o show Deus é mulher, nome de seu mais recente disco, lançado no ano passado pela gravadora Deck, o 83º de sua carreira. A apresentação será neste sábado (11), às 21h30, no Sesc Palladium. A rainha do milênio aproveita sua passagem pela capital mineira para, de quebra, receber título de cidadã honorária de BH. “Estou muito feliz com a homenagem, pois minhas raízes estão aqui”, orgulha-se.

Aos 88 anos (completará 89 em 23 de julho), a estrela, até arrisca um ‘mineirês’ para expressar sua gratidão: “Como não ficar contente, uai?”, diz, reagindo à homenagem proposta pelo vereador Gilson Reis, pelo fato de Elza ser filha de pais mineiros, além de a cantora ter uma relação íntima com Minas Gerais e com Belo Horizonte. “Realmente, confesso estar muito emocionada com este título de cidadã honorária. Isto me deixa vingada, vamos assim dizer. Afinal, minha família é toda mineira: avós, pais, marido, há toda uma relação com o povo mineiro, que sempre me recebeu muito bem!”, confessa a cantora.

Ainda que este show seja da turnê do CD Deus é mulher, ela vai cantar também algo do anterior, A mulher do fim do mundo. De BH, os próximos destinos serão Porto Alegre (RS) e a Europa. “Costumo dizer que não vou à Europa, mas que eu volto lá, pela quantidade de vezes que já me apresentei naquele continente”, brinca. Ela vai ao palco acompanhada por uma banda formada por Rodrigo Campos (guitarra e cavaco), Rafa Barreto (guitarra e synth), Luque Barros (baixo e synth), Da Lua (percussões), Guilherme Kastrup (bateria), além de Pedro Loureiro e Rubi nos vocais de apoio.

Inquieta, revela que já está trabalhando num novo CD. “Já sei quais serão as músicas, mas, por enquanto, não posso adiantar mais nada”, faz mistério Elza. “Ainda é difícil viver de música no Brasil. É preciso ser persistente, levantar a cabeça e continuar seguindo em frente. Em nossa carreira haverá sempre os períodos de altos e baixos, por isto é preciso continuar andando. Se pararmos, nasce raiz em nossos pés”, ironiza.

Elza conta que em suas apresentações exalta a energia feminina como a provedora do atual cenário sociocultural mundial e já no título do show/CD, Deus é mulher, costura a história contada pelas canções deste disco. Ela é uma das maiores defensoras das mulheres, gays e da negritude. “Infelizmente, o Brasil ainda comporta muito preconceito, racismo. Isso não é nada bom. Mas acredito numa virada. Acho até que as mulheres estão mais unidas, mais evoluídas. Isto é um bom sinal. As pessoas têm que entender que cada um faz o que quer da vida dele e ninguém tem nada a ver com isto. Somos livres para seguir nossos passos.”

HISTÓRIA

Elza viveu momentos tumultuados, como a união com o jogador Mané Garrincha, a perda de quatro filhos, incluindo Manoel Francisco, o Garrinchinha, morto em 1986, que teve com o ídolo da Seleção Brasileira. Casou-se aos 11 anos e foi mãe aos 12. Ela conta que, aos 23, mantinha firme o sonho de ser cantora de sucesso. “E foi exatamente em 1953 que resolvi arriscar todas as minhas fichas e participar do famoso programa de calouros conduzido pelo narrador e apresentador mineiro Ary Barroso, na Rádio Tupi.”

Ela lembra-se que se arrumou toda, colocou seu melhor vestido e partiu para a aventura. “Quando adentrei o palco, fui questionada pelo apresentador, que ironizou: ‘De qual planeta você é?’. E eu respondi: ‘Vim do mesmo planeta que o senhor. Do planeta fome, seu Ary’. Foi um silêncio total, o auditório ficou mudo, assim como ele, que viu toda a sua ironia jogada por terra”, lembra. Recebeu seu primeiro cachê naquele dia, dinheiro que serviu para comprar remédios para o filho recém-nascido, que estava doente.

A partir dali, viu que era possível ter o velho sonho realizado e mergulhou fundo na carreira de cantora. “Tudo foi muito difícil, é claro. Saía escondida da família para cantar. É uma carreira na qual a persistência não pode nunca ser esquecida, é a nossa companheira do dia a dia. Desistir, nunca! Conselho que mando para todos que estão começando suas carreiras. Como diria Sócrates, ‘Só sei que nada sei’. A verdade é que a gente está sempre aprendendo e pagando pra ver”, acredita.

“No fundo, no fundo, ensinamos pouco e aprendemos muito. Tenho a certeza de que não mudaria as minhas ideias sobre a minha carreira. Porém, mudaria as de outras pessoas. Embora o Brasil seja um país rico, muitos continuam ainda vivendo no planeta fome. Infelizmente, ainda se rouba muito por aqui e isso faz com que muitos não tenham nem o que comer”, lamenta a cantora.

PREMIAÇÃO


Com diversos prêmios recebidos ao longo da carreira, Elza foi eleita em 1999 pela Rádio BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio. Em 2016, ganhou o Grammy Latino, como Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, com o disco A mulher do fim do mundo, lançado em outubro 2015 pelo selo Circus. Naquele mesmo ano, a cantora foi também indicada pelo prêmio Melhor canção em língua portuguesa, com a música Maria da Vila Matilde, porém, não alcançou o primeiro lugar. Em 2014, um tombo no palco fez com ela tivesse de passar por uma cirurgia na coluna e ainda sofresse de problemas de locomoção, razão pela qual canta assentada atualmente.

ELZA SOARES – DEUS É MULHER

Sábado (11), 21h30, no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima, 420, Centro, (31) 3270-8100. R$ 150 (inteira, plateia I), R$ 75 (meia-entrada, plateia), R$ 130 (inteira, plateia II), R$ 65 (meia-entrada, plateia II), R$ 52 (cliente Sesc), R$ 90 (inteira, plateia III), R$ 45 (meia-entrada, plateia III), R$ 36 (cliente Sesc). Ingressorapido.com.br

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